Colunistas

Publicado: Domingo, 24 de julho de 2011

Cantando a vida ou desencantando-se com a vida?

Cantando a vida ou desencantando-se com a vida?
Amy Winehouse fez uma turnê pelo Brasil em janeiro

Sou fã incondicional de música e adoro cantar. Sozinha, mas principalmente em grupo, o cantar me traz inspiração, conexão, sentimento de pertencimento, união e uma sintonia fina com o lado melhor da nossa existência. Cantar faz a vida pulsar. Fico pensando se é assim pra todo mundo. Será?

A morte da cantora Amy Winehouse me fez novamente refletir sobre como o canto pode se distanciar de todos esses sentimentos quando ele é obscurecido pela indústria do consumo, que vê os artistas como produtos de marketing e venda. Amy não foi a primeira a ter uma passagem precoce e certamente não será a última. Dona de uma voz talentosa e marcante, não conseguiu tocar sua vida na mesma proporção que seu talento. Uma sina triste que muitas estrelas carregam desde cedo, na ladeira do sucesso. São tantos exemplos....

Amy tinha apenas 27 anos e uma coleção de prêmios espantosos para sua pouca idade. Aos 16 anos começou sua carreira de cantora profissional, lançando seu primeiro disco "Frank", com 20 anos. Apenas sete anos antes de sua morte. Tempo curto. Filha de família simples, vivia em Londres e experimentou desde pequena o sabor do jazz com seus tios maternos, que eram profissionais. Seu segundo CD, "Back to black", saiu em 2006 e ganhou cinco prêmios Grammy, entre outros. No entanto, além do sucesso, ela passou a integrar as notícias sobre escândalos de celebridades por uso de drogas, bebidas, agressões e brigas conjugais.

O canto da vida abriu espaço para que a vida ficasse num canto. Canto esquecido. A música virou ruído. Não a música que ela cantava, com voz vibrante, pulsante, que elevava platéias às alturas. Falo da música interior, aquela que nos conecta às vibrações mais puras e profundas do universo. Falo da música que abre asas e não da que enterra a alma.

Posso ser inocente, mas ainda acredito que o berço da relação entre o ser humano e a música é o pulsar pela vida. Cantar e ouvir música podem nascer de um lamento, ou ser refúgio para tristezas ou revoltas. Afinal, a música sempre foi em toda a história da humanidade uma companheira para todo tipo de viagem. Mas cantar é essencialmente voltar para casa. É quando acessamos dentro da gente aquele lugar que sabemos ser nosso eternamente.

O que acontece no meio do caminho então? Porque tantos cantores maravilhosos, que nos inundam de emoções, pagam o canto com a própria vida? Essa é uma pergunta que não quer calar, e que sempre ronda minha mente. Por que a ponte da liberdade se torna uma prisão? É triste ver exemplos e mais exemplos nos quais o canto se desencanta.

Ao ver essas histórias, o meu desejo é que a música cante mais alto do que o lado escuro da vida. Que ela sirva o seu propósito de nutrir, acolher, acalentar, conectar, amparar e vibrar. E que os jovens talentos encontrem no caminho da música estradas libertadoras, portadoras de vida para si mesmos e para todas as suas relações.

Afinal, Rubem Alves já diz faz tempo: “Música é vida. E que quem tem vida interior jamais está sozinho.”

Comentários