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Publicado: Quinta-feira, 31 de maio de 2012

Cacetadas eleitorais

Crédito: Domínio Público Cacetadas eleitorais

Não teve pra mais ninguém naquelas eleições para vereador em São Paulo, em 1959, quando 540 candidatos disputaram 45 vagas.

Com aproximadamente 100 mil votos contra 95 mil do partido mais votado, o Partido Social Progressista (PSP), Cacareco foi “eleito”. Só não assumiu devido a sua condição de paquiderme.

A rinoceronte – sim, era uma fêmea – havia embarcado rumo à São Paulo, emprestada pela Prefeitura do Rio de Janeiro para a inauguração do Zoológico paulistano.

A ideia de lançar o animal como candidato teria sido do jornalista Itaboraí Martins, do jornal O Estado de São Paulo, inconformado com a baixa qualidade dos concorrentes.

O nível das campanhas condizia com o dos candidatos. Um deles que pesava 230 kg, carregava o slogan: “O candidato que vale quanto pesa”. Outro passeava com uma onça e os dizeres: “Eleitor inteligente vota no amigo da onça”. O Partido Republicano Trabalhista (PRT) instalou uma roleta no Viaduto do Chá com os nomes de seus 45 candidatos e o cartaz: “Basta girar a roda da sorte: todos merecem seu voto”.

Itaboraí não perdeu tempo. Juntou os colegas e tratou de promover o seu candidato, pichando a cidade com a frase: “Cacareco para vereador”. O eleitorado aderiu em massa e no dia das eleições, rabiscou o nome do bicho nas cédulas eleitorais, que depois foram anuladas. O episódio se tornou um dos mais famosos casos de voto de protesto da história da política brasileira.

Já em 1988 foi a vez do macaco Tião se tornar celebridade. Chimpanzé do Zoo do Rio de Janeiro, Tião era muito querido pelos frequentadores, apesar do seu reconhecido mau humor – atirava excrementos neles. A brincadeira criada pela revista Casseta Popular em defesa do voto nulo, lançou a candidatura não oficial de Tião, para a Prefeitura. Não é que o animal recebeu mais de 400 mil votos? Foi o terceiro colocado entre os 12 concorrentes.

A partir do pleito de 1996, a urna eletrônica substituiu a votação por cédulas. Ganhou o sistema, considerado livre de fraudes. Perdeu o povo brasileiro, que hoje vota e elege vegetais, quer se identifiquem como tal ou não. Não há mais Cacarecos e Tiões. O que restou foi muita erva daninha andando por aí.

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