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Publicado: Quinta-feira, 10 de maio de 2012

Bolinhos de Chuva do Museu

É quinta-feira. O estagiário ronda feito borboleta a porta da cozinha. É cedo ainda. O óleo já frige na panelinha, mas nada...

Puxa assunto sem despregar os olhos compriiiiidoooosss do fogão. Retarda e se atrasa pra voltar ao trabalho. Ih! A chefe está chamando. Com a boca cheia d’água e o estômago vazio, vai desgostoso e de má vontade, arrastando os grandes pés de menino em crescimento.

Na cozinha, a moça prestativa mexe a massa na tigela – um pingo de leite condensado, um tantinho de pó Royal, sabe-se lá quanto de farinha de trigo, uma pitada de Maisena e um teco de açúcar. Ninguém consegue repetir a poção. Que tantinho é esse? E o teco, quanto que é? Vai saber e, não importa.

Aos poucos a massa mole é colocada a fritar aos pingos, derrubada preguiçosamente da colherinha que a contém. Um a um – três ou quatro de cada vez – surgem minúsculos prazeres crocantes.

No andar de cima, os funcionários se mexem inquietos. O cheiro sobe as escadas e escala a varanda. Atinge em cheio as narinas. Só mais um pouquinho de paciência, pensam, revirando-se nas cadeiras.

Na fritura, bolinhas douradas surgem na panela – algumas branquinhas outras, nem tanto. Tem pra todos os gostos. Passadas na toalha de papel, rolam no prato sobre canela e açúcar cristal. O odor se intensifica e atravessa os corredores e salões. Foge pra rua e atropela os funcionários da recepção.

Ah! Perdição! O Museu de janelas grandes e amplas portas, em Salto/SP, lembra casarão de fazenda. Num passe de mágica e por segundos, um bando de Narizinhos e Pedrinhos rumam em busca de tia Anastácia, invadindo a cozinha. Lá encontram “Angelastácia”, a dos irresistíveis bolinhos de chuva.  

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