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Publicado: Quarta-feira, 1 de março de 2017

Atrás de Pokemons

Crédito: Domínio Público Atrás de Pokemons

POR TRÊS VEZES, quase atropelei seres incautos que caminhavam em outros mundos, munidos de um aparelhinho nas mãos.

Em comum, tinham a cabeça encurvada, olhos no objeto e dedos que apertavam freneticamente as teclas – além de uma pequena corcova no pescoço. “Pescoço de texto” - dizem os especialistas que detectaram a doença.

Ao longo de cada setenta anos, em média, o ser humano despe suas vestes culturais, morais, éticas, religiosas e comportamentais. A partir de novos ou até velhos conceitos, filosofias, descobertas científicas e tecnológicas, tece lentamente uma nova roupagem que transmuta o mundo.

A exclusão chega quando a incapacidade de inserção em tempos tão diferentes se torna visível e manifestada com a expressão: “No meu tempo era melhor”.

A virtualidade ocupa cada vez mais espaço na vida das pessoas. Ir a bares com amigos e não conversar, mas teclar continuamente com os amigos ausentes; fotografar tudo – mas tudo mesmo – para postar imediatamente nas redes sociais; ter centenas de “amigos” que nunca viu ou verá, ou sair à caça de Pokemons virtuais em ruas, avenidas, shoppings e florestas.

O Pokémon Go é um jogo gratuito para smartphones. Combina a realidade virtual com o mundo real, porque o jogador tem perfil dentro do jogo e caminha no mundo real como se estivesse dentro do aplicativo

Para o fabricante, a Nintendo, o jogo estimula as relações sociais dos usuários, que conhecem outros jogadores e conversam com eles nos pontos estratégicos mostrados pelo aplicativo.

Inúmeros estudos demonstram que o avanço tecnológico alterou o comportamento dos indivíduos, a maneira com que se relacionam nas redes sociais, e o acesso a informação via sistemas de busca – mudanças que ocorrem nas ligações químicas cerebrais.

Resta desejar que o fato de estarem constantemente plugados a vários dispositivos não crie um ser humano alienado de si mesmo, insensibilizado e cada vez mais inconsciente da sua própria natureza.

No virtual século 21, a vida acontece através das telas líquidas. Um dos grandes fabricantes de smartphones com câmeras de alta definição, garante que “as suas lembranças serão tão vibrantes quanto a vida real”.

Que vida real? 

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