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Publicado: Segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Até que o ORKUT nos una... ou separe!

Até que o ORKUT nos una... ou separe!
Olha aí o bichinho...
Vou confessar: sou recém adepta ao Orkut. Pior: só entrei nessa balada de tanto que meu filho de 9 anos insistiu. “E por acaso eu tenho tempo pra isso?” Eu disse pra ele infinitas vezes. Mas mãe é mãe. Entusiasmo demais contagia – ainda bem – e a não desistência dele me convenceu. Detalhe: meu filho está no Orkut há poucos meses, depois de muita conversa, leitura, filtros, bloqueadores e orientações.
 
Tá, lá vou eu. Mas com ele do meu lado, tipo pegando na mãozinha e rindo das minhas perguntas ignorantes. Justo eu, que vivo com a cara no computador, entendo tanto de comunidades virtuais, webjornalismo, e-Learning e estou mergulhada nesse universo online há 8 anos. E daí? No Orkut eu era uma quase retardada. Qual a diferença de recado e depoimento? O que os outros estão vendo e o que não estão? Xiii, as pessoas viram que eu xeretei o Orkut delas? O que é abraço de urso? Como eu faço pra convidar uma pessoa pra entrar na minha rede? Ah, tá, é no + amigo. Como eu ia saber?
 
Meu filho ria, e se divertia. Montou pra mim um super BuddyPoke (um "eu" no universo virtual que se mexe e faz mil coisas, à minha imagem e semelhança). Demorei uma semana pra entender o que era. Quando finalmente eu me dignei a perder um tempo pra ver, fiquei emocionada com o gesto dele, que criou – com olhos de filho apaixonado – uma réplica de mim, toda lindinha, com olhos azuis, roupa roxa e borboleta na camiseta. Meu filho vibrou porque eu gostei da sua criação. Nossa!!! Olha a minha amiga me dando um abraço de urso!!!
 
Tem outras partes menos nobres. Minha filha, no auge dos seus 15 aninhos, não gostou nada disso. Agora eu consigo saber o que ela anda fazendo, acompanho as fotos dos churrascos, saídas com pizza e trilhares de depoimentos de amigos. Também não fico xeretando tanto assim, prefiro uma boa conversa, mas xeretar é o esporte principal do Orkut. Parece que eu entrei dentro da revista Caras.
 
Ah, e tem também o orkutês. Carinhas com as mais diversas expressões de horror e amor, apelidos, frases de boas vindas, estrelinhas de fãs pra mostrar que sou popular (e não sou!), coraçõezinhos pra mostrar que sou sexy (menos ainda!) e quadradinhos azuis pra quem é legal (sou?).
 
O melhor de tudo foi achar amigos de 20 anos atrás. Isso foi incrível mesmo! Agradeci meu filho por ter me iniciado nesse mundo promíscuo de saber sobre a vida de todo mundo. Só podia mesmo funcionar no Brasil! Afinal, é nesse país tropical abençoado por Deus que 85% dos internautas acessam redes sociais.
 
Um capítulo à parte são as comunidades. Curti ver as comunidades escolhidas por meus filhos e amigos. Aliás, já que eu me “despreconceituei”, digo para os pais e educadores: virem orkuteiros! É uma forma interessante de estar perto dos filhos e alunos. Afinal (me sinto jurássica falando isso!) o Orkut é o universo deles e pode ser menos constrangedor - pra eles principalmente - do que entrar numa balada. Embora eu ache que uma ação não substitua a outra, apenas complemente.
 
Se você, que está lendo esse texto, é daqueles que prefere se manter “out” por medo, preguiça ou falta de tempo, aí vai uma informação fresquinha que vai muito além de uma simples opinião: um estudo americano feito com 800 jovens entre 13 e 19 anos e seus pais mostrou que websites de rede social como Facebook, MySpace, Orkut entre outros podem ser a porta de entrada dos adolescentes para o mundo profissional dos adultos. Afinal, é neste ambiente que eles treinam o uso da tecnologia e aprendem a conviver com pessoas de diferentes perfis. A conclusão faz parte de um estudo de quase três anos no qual os pesquisadores gastaram mais de cinco mil horas observando os hábitos dos jovens. E a verdade é que a maior parte deles usa a rede para se integrar e interagir com seus amigos, além de participar de grupos com o mesmo interesse. Quem vai dizer que isso não é saudável? É melhor ficar catatônico na frente da TV assistindo ao noticiário ou as novelas? Questões para refletir...
 
Não, não esqueci da segurança e não fecho os olhos para os perigos. É fundamental preparar os filhos para andar nesse mundo. Mas negar ou simplesmente proibir não vai resolver. Como prepará-los sem conhecer? Não adianta, tem que conhecer! É importante visitar essas tribos. Cada cenário tem seu jeitão. O Facebook, por exemplo, é super certinho e - mesmo cheio de brasileiros - não parece nem um pouco com o país do carnaval. É impressionante ver como essas redes de relacionamento se proliferam pelo universo virtual, cada uma com o seu astral. É uma verdadeira escola de comportamento humano.
 
Com o Orkut – que eu tanto resisti - aprendi que com paciência e um pouco de boa vontade, a gente se acostuma com tudo. Vamos chegando de mansinho, aprendendo os códigos, desaprendendo a escrever as palavras inteiras (senão o filho fica rindo!), e em pouco tempo já vestimos a camisa e nos “achamos” do pedaço. Coisa mesmo de adolescente, que adora pertencer. Começa na brincadeira, e depois a gente percebe o quanto de aprendizado existe atrás desse aparente “laissez faire”.
 
Só agora entendi porque a minha filha diz que “ou a pessoa namora ou tem Orkut, porque as duas coisas juntas não são compatíveis”. Questões primordiais do relacionamento humano estão em jogo: confiança, exposição, medo, ciúmes, vaidade, transparência, sentimento de pertencimento ou exclusão, dignidade e tantos outros atributos da inteligência emocional ficam escancarados. Como tudo na vida, tem que saber usar. Se vai separar ou unir, a escolha é de cada um.
 
Mas uma coisa eu sei: nunca mais vou dizer “dessa água eu não beberei!”
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