Colunistas

Publicado: Domingo, 31 de julho de 2016

Até que a morte os separe

Até que a morte os separe
Escultura do artista polonês Jerzi Kalina

Na verdade aquele sapato já pisava torto e não valia a pena sequer um remendo. Com um chute, descalçou-o no ar em um arremesso que levou a perdido no meio do pasto. Chegou em casa mancando e foi direto para o chuveiro, cumprimentando a esposa do quintal com um grito de dentro do banheiro. A água acariciando sua cabeça lhe trouxe mais de vinte anos de carreira comercial, vendendo de tudo um pouco. Sempre saindo cedo e batendo de porta em porta, na esperança de encontrar alguém que, se não valorizasse seus produtos, ao menos pagasse pelos seus causos. Depois desse tempo todo parece ter encontrado o emprego ideal. "Até que horas vai ficar aí enrolando? Tem que economizar água", gritou a esposa, esmurrando a porta. Ele ignorou. "Quem essa mulher acha que é? Trabalhei o dia inteiro na rua. Que se foda a conta de água", pensou. Saiu do banho, entrou no quarto e jogou a toalha úmida na cama. "Eu vou te matar!", urrou a mulher. E ele refletiu: "Vendendo plano funerário perdi o medo de morrer".

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