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Publicado: Quarta-feira, 13 de junho de 2018

As mulheres no topo: executivas e princesas

            Lia fechou os olhos, respirou fundo e relaxou. Havia conquistado seu sonho maior e chegado ao topo da carreira. Vencera a disputa pela posição de Vice Presidente de Recursos Humanos da empresa líder em cosméticos no Brasil. A trajetória havia sido longa e árdua. A formação em economia, complementada por estudos em recursos humanos no Brasil, Estados Unidos e França a colocaram de igual para igual com os concorrentes masculinos em maior número. Mas, aos 48 anos de idade e 30 de experiência em empresas de ponta, não havia dúvidas que ela seria a vencedora.

            Lia não é a única mulher a chegar ao topo das organizações na área de Gestão de Pessoas e em outros cargos importantes. Adriana, Luciana, Ana Maria, Alessandra, Renata e Claudia figuram no organograma de empresas líderes em seus segmentos. Os salários e bônus que recebem não são diferentes daqueles pagos aos homens em cargos equivalentes: a tabela salarial não distingue o azul do rosa, o que conta é o mérito e a competência.

            A suavidade nos argumentos e a firmeza nas decisões tornaram a mulher moderna a candidata ideal para a liderança da gestão de pessoas nas organizações. As relações nos ambientes de negócios são competitivas, conflituosas e dinâmicas, exigindo do líder em Gestão de Pessoas, a serenidade, a paciência, a harmonia que as mulheres conseguem transmitir às pessoas. Em vez de imitar os homens em sua rudeza e impetuosidade, elas usam seus atributos próprios para solucionar os problemas que fazem parte da vida organizacional. A presença da mulher nas reuniões desarma os espíritos mais agressivos e suaviza as discussões, sem perder a objetividade e a eficácia.

            Por outro lado, na hora do café em um grupo de mulheres, desaparece a executiva e entra a figura mãe, da esposa, da namorada, da dona de casa e os temas vão da escola dos filhos à manicure, dos sapatos deslumbrantes às dietas milagrosas, das fofocas e novelas às preocupações com a família, passando pelas frivolidades e banalidades da vida das mulheres. Todas falando ao mesmo tempo, naturalmente.

            A ascensão e igualdade das mulheres no mundo do trabalho é uma realidade ou os casos aqui narrados seriam uma exceção?  Segundo o estudo “Mulheres, Empresas e Direito 2018”, conduzido pelo Banco Mundial, as mulheres representam 50% da população brasileira, mas somente 43% da força de trabalho. Elas recebem salários 25% menores e representam apenas 37,8% dos cargos gerenciais e 10,5% dos parlamentares do país. O estudo conclui que o Brasil ainda precisa avançar na elaboração de leis que garantam a plena participação econômica das mulheres.

            As organizações que praticam a plena igualdade entre os gêneros ainda são minoria no Brasil. São empresas com uma cultura superior e modelos de conduta a serem imitados. Há um longo caminho para a disseminação dessa cultura não discriminatória entre a maioria das organizações, o que permitiria a chegada das mulheres ao topo, sempre que tivessem esta aspiração.

            Mas, os sonhos de princesa não foram abandonados. Meghan Markle se casou com o príncipe Harry, tornando-se Duquesa de Sussex. Meghan é uma plebeia, atriz, de sangue negro e divorciada, características surpreendentes para a ortodoxa realeza britânica de sangue azul. Ela é bonita, inteligente e charmosa para cativar o coração de um nobre da família real.

            Elas podem ser executivas ou princesas, num mundo aberto às escolhas e livre de preconceitos e barreiras à liberdade. Deus nos fez iguais, ainda que se diga que elas foram criadas de uma costela de Adão.

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