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Publicado: Terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Às futuras cascas (Feliz 2017!)

Às futuras cascas (Feliz 2017!)

Não! Não se trata, aqui, de qualquer dispositivo de fuga, mas de proteção. 

Sim, de proteção, de colocar os pesos na balança e se verificar qual a real medida de todas essas coisas que nos cercam.

A hora de ver bem perto o que precisaria ser visto. O que precisa ser visto.

Ainda que doa, ainda que nos custe a própria sanidade, ou um longo período de solidão. Remédio amargo, não há jeito. É preciso sacar alguma coragem e pô-la para funcionar, bater, sempre na direção de se encontrar alguma sorte de cura.

Não será fácil, simples, tranquilo ou indolor. Será o que tiver de ser. Sozinho, sim, mas em direção a tudo aquilo que fizer parte da minha essência.

O ano que está chegando será um período de travessia. E sei, de antemão, que será igual, de fato, a todos os outros já passados: minha única voz em pausa; sequer o eco.

Não tenho, nem terei, saudade desse tipo de passado. O passado que me constituiu está aqui no meu presente, e nenhum gesto ou pessoa que aqui não está comigo, agora, possa verdadeiramente ser chamado de passado.

A consistência; essa é a minha busca.

Não poderia, sob qualquer pretexto ou em qualquer circunstância, permitir qualquer coisa outra vez. Simplesmente porque não valeu a pena. Não foi íntegro, generoso, afetivo e emocional. Não foi nada, apenas um ledo engano meu. Impossível confiar em tudo, em todos, crer piamente que todas as pessoas, absolutamente, estão imbuídas de fraternidade ou visão mais ampla de como tudo na vida realmente funciona.

Essas poucas pessoas que estão comigo, agora, na verdade, sempre estiveram. Não houve hiato, nem a passagem do tempo: elas vão e retornam porque querem ocupar seus lugares. Elas estão pelo desejo delas, não meu. Gostam da convivência concreta, ao vivo, carnal, presencial. Fazem por gosto. Vivem comigo pelo prazer do feliz acidente que coloca todas as pessoas juntas. Por essa arte, pelo encanto dessa arte, simples, sem grandes dispêndios, sem enormes cobranças, pelo puro prazer de se gostar.

Sim, errei! Na boa-fé, dei ouvidos ao embuste. Isso vem me custando muito caro: mobilizei-me ao máximo para não cair, mas penso, nesse momento, que a queda será parte de algo muito bom que está na outra margem dessa travessia.

Portanto, paro. Serei, eu, aqui, não mais ali, acolá, em sangria desnecessária de adaga alheia. Jamais fiz cortes em mim mesmo, não seria agora que daria vazão a esse tipo de flagelo.

Estarão aqui, presentes, ao meu lado, os que compartilham da essência que sou. Ainda que doa, deixarei o que precisar deixar pelo caminho. Já entendi: não fazem parte, acho que jamais fizeram. E mesmo que isso custe a solidão áspera, vou tê-la, enfreta-la, porque também carrego fé de que há algo bom na outra margem desse estuário.

Para esse ano prestes a se iniciar? Observarei hematomas, suturarei peles, lamberei feridas. Nada espero para mais 365 dias que não seja o incorrigível contemplar das cascas que secam, descolam do machucado, para que outra apareça em seu lugar; e assim, sucessivamente, até que a cicatriz venha finalmente.

Até que me ponha de pé novamente. E, ainda com as marcas, não mais permita que o incerto esteja à mesma mesa onde estarei.

Feliz 2017!

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