Amor canino

- Aninha tá louca por um cachorrinho – diz o pai à vendedora, adquirindo um filhote na loja especializada. O animal abana o rabo e se aconchega feliz no colo do proprietário.

Coitadinho. Ele não sabe que será arrastado dia e noite pela encantadora menina. Que seu sono jamais será respeitado, e que ao descobrirem que faz xixi e cocô em lugares tidos como indevidos - mas que ele desconhece - será hostilizado, rechaçado e raramente educado.

Bicho dá trabalho. Educar, mais ainda. Exige que a família contrate um adestrador, ou que se disponha a levar o novo morador até o local destinado às suas necessidades, todas as vezes em que elas se manifestarem. O resultado é compensador.

Para as Aninhas, melhor é um cãozinho de pelúcia, a pilhas ou virtual. Crianças precisam de brinquedos e animais são de verdade. Eles necessitam do compromisso e da responsabilidade dos adultos. Precisam ser amados.

Filhotes crescem e perdem o encanto. Envelhecem e adoecem. Não podem ou não deveriam ser descartados nas ruas, após o cumprimento de uma longa jornada de fidelidade.

Sim, eles podem viver muito, como Oni, meu cão, filho de pais pequenos - viralatas com ares de pedigri. Foi ela quem me avisou que o milagre se fizera, me tocando com o focinho para junto do cesto: quatro minúsculos filhotinhos. Deles, apenas um macho - o maiorzão da ninhada - e o mais parecido com o pai. O filhote cresceu assustadoramente e ganhou uma longa e sedosa pelagem. Mistério da genética. 

Inteligente, vivaz, doce e bem humorado. Desafiador na juventude, quando superava todos os limites de contenção para correr livremente e saltar como um potro selvagem, numa explosão de vida e exuberância.

Guardião valente. Arteiro, quando silenciosamente ainda abre embalagens ao seu alcance, e se farta de bolos e salgadinhos proibidos, à espera de serem levados para alguém.

Dezessete anos de companheirismo e de amor incondicional. ONI - “Senhor” - em Yoruba. Aquele que manda e que decidiu ficar um pouco mais.