Colunistas

Publicado: Sábado, 23 de novembro de 2013

Alexanderplatz

Alexanderplatz

I

Me diz: quando é que eu ia imaginar topar contigo em
Berlim, se na minha cabeça aquele você de ontem, com
gosto  amanhecido de cerveja e de preguiça, ainda estava
lá onde havia te deixado, montando cavalo de carrossel e de
aparelho nos dentes? Como é que pode me aparecer  assim,
sem me dar chance de aparar a barba, re-nata de sítio extinto?


II

Meio fêmea-fúria, meio mulher-nirvana, contigo no carro
roubado. A  cada troca de marcha a minha mão roçando
o vestido, do joelho para a  coxa. Sentia que te levava às
nuvens que inexistiam no céu daquele  dia, doida varrida
envolta em pouca vergonha. À falta de boas moitas,  ia no
acostamento mesmo, o sol sem pena fervendo
a lata. A carne  exposta. O almíscar vencido.



III

Brincou comigo, te encontrar tão fora de contexto. Alta, linda,  
senhora da vida. Sem lembrança nenhuma da mão boba do câmbio e dos  
cavalos do parque. Agora, os dois defronte, querendo se livrar da  
falta do que dizer. E o teu quase sorriso, de esquálido protocolo,  
feria o meu desajeito. Estátuas em Alexanderplatz.

 

© Direitos Reservados

Comentários