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Publicado: Segunda-feira, 28 de junho de 2010

Administração doméstica

O ser humano é sabidamente insaciável; o orgulho, o mesmo que moveu Adão e Eva, ainda é o carro chefe dos grandes problemas da nossa espécie. No entanto o progresso, o crescimento é algo necessário e inevitável; mas em que medida? De que modo? A que preço? O próprio Deus disse, ao criar o homem: “crescei e multiplicai-vos...”. E nós temos feito isso. Só que, interpretando de modo errado, o homem acabou-se preocupando não com o crescimento total – incluindo aqui não só o crescimento material, mas sobretudo o crescimento humano, espiritual –, e o resultado alcançado, pelo menos até hoje não é o que o nosso Criador deseja.

É doentia a preocupação da sociedade de se apoiar no progresso para crescer, se desenvolver, mas só materialmente e de modo desordenado. Não vemos uma harmonia nesse processo. Já foi dito outras vezes: o bem-estar do homem está no SER grande e não no TER muito.

É assim com a sociedade, é assim com uma empresa e é assim com o núcleo familiar que, sendo a célula da sociedade, acaba explicando o que vemos acontecer em nosso meio.

A família é uma empresa e até a sociedade em miniatura: com seus recursos materiais e humanos, com seus objetivos bem definidos, suas regras, seu orçamento. Necessita, portanto, de uma boa administração para que “funcione” a contento e consiga os resultados almejados. Para isso, precisa da harmonia entre a parte material e a parte humana que devem viver e crescer lado a lado, numa inter-relação que possa respeitar suas dimensões e valores.

Antigamente isso se verificava de modo natural; a mulher, mais administradora do lar com as tarefas de cuidar dos filhos e do marido, da limpeza, arrumação, comida ... Sem dúvida uma tarefa nada fácil, quase heroica em muitos casos. Quanto ao marido, a cultura lhe reservava a parte material, o sustento da organização, com seu trabalho, quase sempre fora do lar.

Funcionou assim durante muito tempo. A vida era mais simples, a sociedade menos complexa, menos estimulante, menos consumista... Mas a sociedade mudou e interferiu na vida do lar. Razões diversas levaram a mulher a uma luta por direitos que julgou preteridos, por uma igualdade com os homens, etc. Resolveu mexer na divisão de tarefas e das responsabilidades. Acabou com a exclusividade quanto aos cuidados do lar, para participar da força trabalhadora externa. A sociedade produtora aprovou e a mulher ganhou igualdade profissional com os homens. Desse lado tudo bem, mas e o lar? Ao que consta, ficou abandonado, já que o homem não pode assumir o espaço deixado pela mulher, pois esta inversão não teria nenhum sentido.

Resultado: um grande número de lares sem nenhum dos cônjuges como presença significativa, sendo sua administração delegada a terceiros, incluindo aqui até os filhos. É claro que a sociedade não “dorme no ponto” e tenta explorar esse filão: comidas prontas, lavanderias, berçários, creches, etc... tudo para que a revolução não se reverta...

Muita coisa precisa se ajustar e uma nova distribuição de responsabilidades se impõe para salvar a organização familiar, com ajustes na carga de trabalho externo, por exemplo. Mas tudo está apenas começando, muita coisa ainda vai acontecer até que tudo se harmonize novamente; os lucros e prejuízos deverão ser repensados; os objetivos deverão ser reestudados para que a vida sofra o quanto menos e que os efeitos negativos dessa revolução social sejam minorados.

Tudo isso está em nossas mãos. Não podemos esquecer os nossos compromissos familiares, comunitários e sociais. Não podemos fechar os olhos e deixar o barco correr, sob pena de não conseguirmos escrever a parte que nos toca no livro da vida.  

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