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Publicado: Segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A vida começa aos 40

A vida começa aos 40
Asas e raízes: possibilidades da maturidade.

Ainda tenho na memória o sentimento de desconfiança e de profunda irritabilidade, quando aos 15 anos de idade, ouvia das pessoas mais velhas que a vida começava aos 40.  Já não era muito esperar os 18 para enfim abraçar a senhora liberdade?  Conquistar a independência e ser dona do próprio destino?  Pensava eu na essência da fase mais complicada da vida.  

Hoje, ao escrever essas palavras, penso que os 40 anos, tão distantes daquela menina, quase moça, passaram rápidos e intensos como as cenas de um filme na tela do cinema. E com a mesma clareza das imagens em alta definição enxergo o sentido e a amplitude do que diziam os adultos da minha adolescência. 

Certamente essa minha sensação não é novidade para muitas outras pessoas que já viveram a experiência. Novidade também não é para a Psicologia, ciência voltada às emoções do desenvolvimento humano. Mas a singularidade da experiência é tão forte para a percepção individual que não resisto ao desejo de fazer desse momento um tema de reflexão.   

Já fiz, em muitas outras oportunidades, defesas explícitas sobre a importância do respeito à maturidade e dos excessos da sociedade em supervalorizar o novo e a novidade. Também já escrevi algumas crônicas defendendo o direito ao envelhecimento e a importância dessa reflexão no processo educativo das novas gerações. Mas o caminho que conduzirá essas linhas é outro: procuro na construção das palavras a compreensão lógica e emocional do porquê a vida começa aos 40.  

Recentemente em um almoço de negócios em São Paulo, relatava sobre o orgulho que sentia pela minha cidade natal, onde há pouco tínhamos inaugurado um espaço de alto padrão dedicado à educação e cultura. Dizia que a cidade gozava da competência de gestores, da minha geração, que souberam criar asas e raízes. Souberam voar para olhar além dos muros da cidade, mas mantiveram as raízes para acreditar que outro jeito de fazer cidade é possível.  

Ao dizer essas palavras, senti em mim a descoberta conceitual para a sensação que há tempo me habitava: asas e raízes. Sim, a partir dos 40 anos já descobrimos o valor do voo e das suas possibilidades, já ampliamos a visão de mundo e dos novos horizontes, já experimentamos do universo acadêmico, da força da ciência e dos prazeres materiais.  Sabemos controlar a altura dos voos e, mais ainda, a dominar as asas, impulsivas na adolescência.  E desejamos as raízes.

Não é à-toa que muita gente depois de encerrar as atividades profissionais volta para a cidade onde nasceu. Tocar o mesmo chão com os pés crescidos e senti-lo ainda prazeroso é privilégio de quem soube cultivar suas raízes.      

Só a maturidade dos 40 anos de idade nos permite perceber que nem tudo é o que parece: que o certo pode ser torto; que o grande pode ser pequeno; que o muito às vezes é pouco e que a sua religião pode não ser a minha e ainda assim podemos ser parecidos.  Como diz a canção infantil, “nem toda palavra é aquilo que o dicionário diz. Tem riso que parece choro, tem choro que parece riso. Tem beijo que parece mordida, tem mordida que parece beijo...” 

Tem um jeito de ver a vida aos 15 anos de idade, e outro, aos 40. 

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