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Publicado: Terça-feira, 11 de abril de 2006

A salada mista das metodologias educacionais

O importante é que toda escola tem o dever de adotar, como critério norteador da sua atitude pedagógica, as condições específicas do aluno, tentando, na medida do possível, assegurar aos educandos um currículo dinâmico fundado em métodos, técnicas e recursos educativos que, mediante articulações e parcerias com outras instituições de formação escolar, possibilitem a inserção futura no campo do trabalho.
(Revista Integração n.º 21 - MEC, pág.16)

Por esses dias, li um texto interessante, de autoria de Edson Bueno de Camargo, intitulado "Quem vê o que?", que discute a reportagem do jornal Folha de São Paulo sobre o debate que divide educadores da linha construtivista, predominante na maioria das escolas públicas e privadas do país, e defensores do método fônico, priorizado hoje em vários países desenvolvidos.

Pois é. Nenhum outro assunto está tão em voga no meio educacional como a volta do tal "método fônico".

"Não se esqueça de reservar a sua cartilha 'Caminho Suave' para o ano que vem - brinca sempre um professor -, pois do jeito que as coisas vão indo, vai faltar..."

Mais uma vez, corremos o risco de sucumbir à moda das metodologias de ensino, como se nossos alunos fossem meros expectadores de um desfile.

E, no meio dessa salada mista, ficam os desnorteados pais. Há alguns anos, todos aprenderam que bom mesmo era o tal "construtivismo", e faziam questão que os filhos tivessem acesso a essa maravilha do mundo da educação, mesmo sem saber ao certo o que isso significava. Depois, veio a moda de Gardner, com a teoria das múltiplas inteligências, e mais uma vez escolas e pais alteraram a sua forma de pensamento para se adequar à "modernidade". Mas, agora, ao contrário do habitual, o novo tornou-se velho e o velho tornou-se novo. E cá estamos nós, novamente, à mercê de frases nada interessantes, do tipo: "O bebê baba." e "Ivo viu a uva.".

A verdade é que cada metodologia adota um tipo específico de trabalho, e presta algum tipo de contribuição à educação. Por isso, a meu ver, para que as escolas não corram o risco de ceder aos modismos e “fundir a cuca” dos pais e dos alunos, é interessante utilizar o que cada uma das diferentes teorias e metodologias pode oferecer de positivo, orientando cada atividade de forma a permitir um maior aproveitamento por parte do aluno e criando, assim, a sua própria “identidade metodológica”.

Para ficar por dentro do assunto e não correr o risco de ser engolido pelas inovações do meio educacional, conheça um pouquinho das principais linhas metodológicas:

MÉTODO TRADICIONAL — A criança aprende por meio de associações e de muito treino, sendo que a disciplina, o respeito às regras e o incentivo à responsabilidade são muito valorizados. Utiliza-se do "Método fônico", no qual a letra é o desenho/registro do som que é expresso com a voz.

MÉTODO MONTESSORIANO — Dá ênfase à educação da vontade e do autocontrole. Possui vasto material destinado a desenvolver as funções sensoriais e o aprendizado da leitura, da escrita e do cálculo. Valoriza ações e atividades relacionadas à vida prática, já que nos primeiros anos de vida a criança aprende mais pelas ações do que pelas palavras.

PEDAGOGIA FREINET — De acordo com Célestin Freinet, a educação deve, por meio de práticas atuais como jornal escolar, troca de correspondências, cantinhos pedagógicos, trabalhos em grupo, aulas-passeio, entre outras, proporcionar ao aluno a realização de um trabalho real, pois a inteligência só se desenvolve a partir de experiências vivenciadas. Aproximando as crianças dos conhecimentos da comunidade elas podem transformá-los e, assim, modificar a sociedade em que vivem.

PEDAGOGIA WALLON — O ambiente escolar deve oferecer oportunidades de interações sociais, pois quanto maior o número de grupos dos quais a criança faz parte, mais papéis assume e mais enriquecerá a sua experiência de vida.

ESCOLA CIDADÂ — “(...) o educador deve se comportar como provocador de situações, um animador cultural num ambiente em que todos aprendem em comunhão”. Para Paulo Freire, a criança deve ser preparada para tomar decisões, e a inclusão de todos, não só dos portadores de deficiências, é fundamental.

TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS — Para Howard Gardner, a escola deve considerar as pessoas inteiras e valorizar outras formas de demonstração de competências além dos tradicionais eixos lingüístico e lógico-matemático. É preciso atender às diferenças individuais e respeitar as potencialidades dos alunos.

TEORIA CONSTRUTIVISTA — Ao contrário do que muita gente pensa, o construtivismo não é um método de ensino, mas sim uma teoria desenvolvida a partir de pesquisas e estudos feitos por Jean Piaget e que ficou conhecido, erroneamente, como “Método Emília Ferreiro”. O construtivismo, como o próprio nome diz, prega a importância da construção do conhecimento por meio da experiência prática. Assim, é preciso diagnosticar quanto os alunos já sabem antes de iniciar o trabalho com determinado assunto.

PEDAGOGIA WALDORF — A Pedagogia de Rudolf Steiner é também chamada de pedagogia holística. Dado que o ser humano não nasce com todas as suas aptidões desenvolvidas, ele precisa ser conduzido para poder encontrar e assumir a si mesmo. O processo pedagógico consiste, pois, em propiciar, através do ensino, o amadurecimento da criança no sentido de ela poder definir a sua própria vida. Por isso, o ensino teórico é acompanhado no enfoque holístico sempre pelo ensino prático (trabalhos manuais) e ensino de arte. O aluno deve aprender que está no mundo não para se submeter ao que já existe, mas para tornar possível e criar o que ainda não existe. Ela ensina exercitando habilidades e não inculcando informações.

PEDAGOGIA SOCIOINTERACIONISTA — Para Lev Vygotsky, o individuo não nasce pronto nem é cópia do ambiente externo. Em sua evolução intelectual, há uma interação constante e ininterrupta entre processos internos e influências do mundo social. Para ele, desenvolvimento e aprendizado estão intimamente ligados: nós só nos desenvolvemos se (e quando) aprendemos. Mas isso resulta dos aprendizados que tiver ao longo da vida dentro de seu grupo cultural. Uma criança, por exemplo, apesar de ter condições biológicas de falar, só o fará se estiver em contato com uma comunidade de fal

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