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Publicado: Segunda-feira, 30 de junho de 2008

A Professora de Português

Brasilina era uma ótima professora de português.
Os bons alunos a endeusavam. Mas, os relapsos (a maioria) a detestavam.
Nas vésperas do Vestibular, suas aulas particulares eram disputadas, pois, quem fosse seu aluno estaria com a aprovação garantida.
 
Professora vinte e quatro horas por dia, o tempo todo estava observando e, quando podia, corrigindo os erros de gramática ou ortografia dos que a rodeavam.
Diariamente, lia os jornais com uma caneta vermelha na mão e assinalava todos os erros que encontrava. Depois escrevia criticando (na melhor das boas intenções), mas os redatores a odiavam.
 
Quando jovem Brasilina teve dificuldade para arranjar um namorado. Ela nunca namoraria alguém que não falasse e escrevesse corretamente e, como os puristas, entre os jovens, são raríssimos, dificilmente ela encontraria algum.
Sua fama, no entanto, chegou ao Olimpo e Cupido resolveu dar-lhe uma mãozinha.
Afiou cuidadosamente duas setas e disparou-as em direção à Terra com endereço certo.
Brasilina e Mayco conheceram-se e apaixonaram-se.
Ela não se conformava, a princípio com o nome dele.
Por que um casal de brasileiros põe no filho um nome estrangeiro? Já que tinham esse imperdoável mau gosto, pelo menos que o escrevessem em sua grafia original e não desse jeito com esse ridículo y espetado no meio!
 
O Mayco não era nenhum fanático pela correção gramatical, muito pelo contrário, era um professor de matemática voltado para as ciências exatas e achava que a finalidade da língua era a comunicação e nada mais. Todo o resto lhe parecia uma grande bobagem.
Entretanto, apesar das diferenças, os dois acabaram se casando, pois o amor sempre consegue transpor as barreiras.
O casamento de Brasilina e Mayco seguiu o curso normal da maioria:
Empolgação... Decepção... Acomodação...
Mayco acostumou-se a ler os jornais rabiscados de vermelho e a encontrar os recados que deixava para ela na porta da geladeira, devidamente corrigidos.
Brasilina não conseguiu acostumar-se com os deslizes gramaticais de Mayco, mas não se aborrecia com isso, repetia monótona e incansavelmente as mesmas coisas na esperança de que um dia ele aprendesse. Afinal era professora e estava acostumada com alunos difíceis.
 
Mas, um dia, uma terrível tragédia desabou sobre o lar de nossos dois heróis.
Apareceu outra mulher na vida de Mayco, para desespero de Brasilina.
Paixão avassaladora, dessas que levam um homem a esquecer todos os valores, princípios, compromissos, responsabilidades, decência, etc.
Mayco resistiu o quanto pode, mas acabou acontecendo o inevitável, resolveu deixar a Brasilina para ir viver com a outra.
No momento decisivo, no entanto, não teve coragem de despedir-se dela, olho no olho. Preferiu deixar um bilhete com aquelas velhas desculpas de cônjuge infiel:
“Foi muito bom, mas acabou... desejo que você encontre alguém que te faça feliz...”
Brasilina, afogada em lágrimas, olha a sua volta, ansiosa, procurando a caneta vermelha,
Nunca conseguiu entender, muito menos, se conformar com aquilo:
- Não sei o que ele viu nela! Fala errado, escreve mal, não deve saber sequer conjugar um verbo corretamente!
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