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Publicado: Segunda-feira, 29 de novembro de 2010

"A primeira e única dama deste país"

"Ela falava. Ela pensava. Ela agia..."

Sempre pensei em escrever sobre a tristeza e a vergonha que me invadem frente ao comportamento da (ainda) atual primeira dama brasileira. No entanto e por considerar outros assuntos mais importantes, essas palavras estavam adormecidas em minha mente e acordaram com o fim do governo Lula. 

Desde a posse do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro mandato, fico observando a postura da Senhora Marisa Letícia.  É frustrante, sobretudo como mulher, observar sua indiferença, sua passividade e sua inércia frente ao status ocupado. Só pelo fato de “estar” primeira dama muitas portas se abririam em parcerias produtivas caso mantivesse em sua atitude um pouco de vontade política, empenho e respeito ao imenso desafio que é (re) construir este país.  

Aliás, defendo o compromisso de toda mulher com a história feminina. Já disse isso algumas vezes: somos responsáveis por honrar a trajetória de luta na conquista da liberdade e dos direitos hoje desfrutados.  Colhemos os frutos plantados pela geração passada... Agora é a nossa hora, temos que fazer a lição de casa: as futuras mulheres dependem do nosso comportamento. E é nessa concretude que os modelos são importantes: não basta acompanhar o marido ou freqüentar os mesmos lugares. A mulher, principalmente quando é modelo, precisa expressar sua capacidade de olhar o presente e focalizar o futuro com consciência ética e disposição social. “Quem é público, mesmo que não queira, é modelo: artistas, líderes, autoridades. Não precisa ser hipócrita nem bancar o santarrão, mas precisa ter consciência de que seus atos repercutem, e muito. Estamos tristemente carentes de bons modelos”, afirma Lya Luft.  

O que fica na História da mulher Marisa Letícia? Que mensagem as meninas levarão para a vida, além das roupas de grifes, do sorriso forçado, das plásticas e botóx? 

Diante da complexidade humana, sabemos que os exemplos são fundamentais para atender às expectativas, os desejos e as interrogações cognitivas deste novo tempo. A coragem de algumas mulheres em romper com posturas vitimizadas, fragilizadas e serviçais tem revolucionado a história. E transformado o papel da mulher na sociedade.  

Mas ainda é pouco: em muitas situações as mulheres insistem na imagem de coitadinhas, porque são acomodadas, fúteis e inseguras. Essa situação se agrava mais na educação das filhas: as meninas são tratadas como bonequinhas de porcelana, sem direito a voz, opinião e liderança. São levadas pelas mães em salões de beleza, muito mais do que em livrarias. São estimuladas a valorizar o corpo, muito mais do que a mente. Lembro-me do depoimento da presidente do estúdio Sony, uma das mulheres mais poderosas de Hollywood, Amy Pascal, quando afirmou que ter sido criada pelo pai, que ignorou as barreiras entre meninos e meninas, foi determinante para sua trajetória profissional. 

O depoimento de Amy Pascal denuncia, em pleno 2010, o culpado, neste caso a culpada, pela perpetuação do padrão machista.  A sua fala também fortalece a tristeza pelo modelo de mulher que a primeira dama representou nesses últimos oito anos. E ainda abre espaço para relembrar a homenagem de Roque Sponholz à saudosa Ruth Cardoso: “Ela falava. Ela pensava. Ela ensinava. Ela trabalhava. Ela agia. Foi a primeira e única dama deste país”.

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