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Publicado: Quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A Mística do Amor

Crédito: APCRC A Mística do Amor

Texto dedicado a todos que seguem amando sem desistir...

 

O amor é um sentimento curioso, pois permite-nos oscilar entre estados que se contradizem e complementam recorrentemente. Amamos no mesmo segundo que odiamos e desejamos distância e logo em seguida essa sequência frenética de sentimentos desconexos recomeça. É um estado de vida plena e constante onde a circulação não para, não anestesia, não amortece, é a verdade das emoções nua e crua, ali convivendo, assistindo, esmorecendo, enaltecendo, enfim, amar é se entregar ao incerto, ao dúbio, ao perfeito e catastrófico, aos dias felizes envoltos pelos dias de guerra. Os aspectos paradoxais do amor são reflexos da própria dinâmica existencial humana.

 

Quem já amou sabe que passa longe da perfeição e da zona de conforto em que nos escondemos no dia-a-dia de uma vida amorfa. Quem já amou sabe que não é simples e não desce suave. É intensidade pululando da pele, rompendo artérias, coração batendo em potência máxima. É um desejar que não cessa nem na dor.

 

Quem opta pelo amor deve saber que não encontrará somente rosas e pássaros amarelos pelo caminho. Não serão apenas dias de conciliação, arco íris surgindo da janela, borboletas na boca do estômago, céus azuis. Amar é tolerar e não desistir diante das diferenças e dificuldades. É um exercício árduo de aceitação de suas próprias limitações e controle das projeções doentias. É entender que não está lidando com um saco de arroz e sim com pessoas em toda sua plenitude existencial, carregando seus amores, cores e muito mais dores.

 

Então, quando o dia amanhecer esquisito, os sentimentos estiverem desencontrados, a convergência for impossível, lembre-se dos dias vindouros, lembre-se do desejo, do toque, do encontro de corpos e almas quentes, das boas vivências, tenha em mente que as diferenças nos fazem mais complexos e mais intrigantes, que somos apenas reflexos indecisos de nossos sonhos mais profundos, e siga amando. Não desista do amor.

 

O amor não é uma peça morta de carne que compramos no mercado. O amor é a motivação mesma de dias melhores, um feixe de luz, um sopro de vida que emerge das terras mais insólitas. O amor é a capacidade que desenvolvemos de olhar o mundo e as relações e significá-las com uma importância transcendental. O amor é a mística da existência.

 

E mais uma vez insisto: siga amando. Dê chance ao amor, dê espaço, deixe-o penetrar na carapaça de cinismo que envolve e dessensibiliza. Ame. Viva. Ame. Sofra. Ame. Não desista. Ame de novo. A vida não há de ser assim tão severa e tão meticulosamente orquestrada a ponto de um ser humano preferir a solidão indiferente em detrimento de um amor explosivo. Seja como for, venha como vier, apenas ame. Devolva amor e quando menos esperar será inteiro amor, repleto de uma vontade rosa shock de viver todas as coisas e todos os instantes perenes. O amor é a descarga energética mais paradoxal na memória afetiva de seu coração, mas ainda assim tão intrinsicamente necessário à existência simbólica humana como água é para se viver.

 

Apenas ame. Nada há de ser melhor que estar amando e se entregando. Nem um estado ou condição pode superar a lógica afetiva de um coração que ama e para e atrasa o relógio da vida, congela os instantes em pequenas gotas de intenso e doloroso prazer.

 

Não desista do amor. Não desista das pessoas que nos amam. Não desista da vida mesma que está aí batendo em sua cara. Acorde zumbi, a vida é uma sequência continua de acontecimentos muito mais sofridos do que recheados de felicidade. Acorde zumbi! Viva, ame, seja infectado pela mística do amor!      

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