A minha Vizinha
Desabafo de uma leitora
Certa vez, recebemos a visita, em nossa redação, de uma nossa leitora e de seu desabafo simples e sincero.
Acostumados e viciados em leituras, até por dever de ofício, lamentamos quando, essa leitora disse estar decidida a suspender a assinatura de um determinado jornal que, melhor ou pior, a punha a par do que acontece mundo afora.
Dizia-nos ela: “Estou cansada de ler somente notícias ruins sobre a violência de um modo geral, guerras políticas, corrupções, sequestros, assassinatos, greves, drogas... sei lá... não agüento mais” – queixa-se a boa leitora.
Infelizmente isso é uma verdade. Só vemos notícias ruins, violências, desgraças, infortúnios, corrupção...
Mas, voltando à nossa leitora, tentamos fazer ver a ela que, se forem analisar melhor as coisas, mesmo reconhecendo que a maldade humana parece não ter limites, descobrirá que nem tudo está perdido. E acho que valeu. Há alguns dias ela veio querer comentar conosco a última que lera num outro jornal e que, segundo disse, a deixou de alma enternecida: a corrente de fé e oração que milhares de pessoas faziam pela melhora da menina “Sofia” vitima de uma doença rara.
Eis aí o mote. É disso, que a nossa leitora gosta: o lado bom e saudável do mundo que vive. Não que seja tão ingênua a ponto de ignorar ou desprezar o lado ruim das pessoas e das coisas, mas cansou e pede uma trégua. Ela sabe que o sofrimento existe e é mais notícia. Mas por que não o há de serem também notícias boas, saudáveis e de alegria.
Analisando melhor, demos razões à prezada leitora. Sabemos, por experiência adquirida, que a tragédia tem mais impacto, vende mais jornal do que mil boas ações. Também não podemos deixar de concordar com ela quando ataca algumas imprensas de baixo sensacionalismo (imprensa marrom). O tiro que o pivete dá no rosto de um turista é notícia. Mas a visita que alguém faz para levar alimento e conforto a uma família pobre, não merece nenhuma linha, nenhum destaque?
É preciso mostrar também o lado bonito das coisas. Não pode ser só sangue e lágrimas. Os frutos que homens e mulheres de boa vontade produzem podem e devem ser vistos, conhecidos e saboreados por muitos.
Se formos ver bem os olhos, as feições e as mãos de quantas outras cores houver nas pessoas verão que também elas têm seus encantos, e tantos que só Deus sabe.
Se existisse uma associação dos anônimos do bem, e existe, acho que nem um estádio de futebol inteiro chegaria para abrigar a todos convenientemente. Perguntamos então: não terá razão a nossa leitora quando reclama do pouco espaço dado à divulgação das coisas boas? Ouvida, ela merece ser.
Ditinha Schanoski