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Publicado: Sábado, 27 de março de 2010

A lição da Isabella

A lição da Isabella
O caso Isabella voltou a nos tocar...

Conviver é difícil, mas necessário. Por mais que pareça incoerente, o homem não nasce humano, ele precisa da relação com o outro para construir valores humanizados. Por isso a convivência é necessária, o homem sozinho não desenvolve a afetividade pelo outro e com o outro.

O caso Isabella voltou a nos tocar essa semana e, novamente, me fez juntar as letras em torno desse tema. Sem a intenção de um discurso moral, ainda que o poder judiciário tenha provado e condenado o crime, o que traz significância maior e aperta meu coração é a ausência de afetividade no sentimento desse pai e da sua companheira, que também é mãe, no impulso das suas ações.

Jogar um corpo pela janela do 6º andar ultrapassa qualquer possibilidade de um desequilíbrio emocional. Humanizados que somos, ou pelo menos deveríamos, nem mesmo um gato morto seria descartado dessa maneira...

A afetividade é um sentimento aprendido, amadurecido e praticado na rotina da vida. Compartilhar o espaço da mesma casa, dividir tarefas domésticas, repartir a comida, administrar horários e compromissos profissionais para atender as necessidades dos filhos, socializar frustrações, tristezas e alegrias são meios que a vida nos oferece para a construção do amor, do afeto e da ternura.  Esse é o sentido da família: estar junto num constante exercício de afetividade entre seus pares.

Mas esse é um aprendizado lento, de inúmeros ensaios, erros e acertos. É preciso persistência, disposição e coragem para se colocar na contramão de um mundo que inspira comportamentos opostos. Valorizamos em demasia as conquistas individuais e materiais e nessa dose, anulamos o exercício da afetividade. Não sobra tempo para olhar o outro, desejar amá-lo.

São muitas as experiências de pais que geram filhos sem a mínima condição emocional de educá-los; protegê-los. São filhos de relacionamentos infelizes, desgastados e desequilibrados. São crianças desprotegidas e jogadas à sorte, e “pelas janelas”, porque têm pais magoados e frustrados, incapazes do afeto familiar.

Que vivência de humanização tem essas pessoas que chegam à vida adulta num estágio de ameaça aos próprios filhos? Que exercício de afetividade pode ter praticado pessoas capazes de violentar e agredir crianças?

Não quero justificar o crime, nem tão pouco reduzi-lo da gravidade e do horror existente. Quero apenas lançar a reflexão necessária num tempo em que sentimentos afetivos são relegados, abandonados, excluídos da nossa vida. E com isso, quem sabe, chamar a atenção para a devida importância do ambiente familiar, do afeto exercitado no cotidiano, do relacionamento intenso entre pais e filhos, dos valores humanos construídos na educação básica.

 Porque só assim a breve vida da Isabella terá de fato nos tocado e deixado uma valiosa lição.

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