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Publicado: Segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A Ironia do Destino

Severina e Mariana eram muito amigas. Estavam sempre juntas e trocavam segredos como todas adolescentes.
 
Mariana tinha um namorado, Jorge, mas seus pais não aprovavam o namoro. Achavam que ele não estava à altura da sua filhinha.
 
Naquele tempo, filha de família conservadora e pais severos, Mariana só freqüentava lugares selecionados, sempre acompanhada e tinha poucas oportunidades de encontrar-se com o Jorge.
 
Severina era mais livre e freqüentava todos os lugares que eram proibidos para Mariana. Era ela que levava e trazia os bilhetinhos para o Jorge e marcava os encontros fortuitos.
 
Sabia todos os pormenores do namoro da amiga. Namoro discreto, bem nos moldes da época.
 
Mas, um belo dia, Mariana teve uma desagradável surpresa: descobriu que sua melhor amiga a estava traindo.
 
Severina e Jorge vinham se encontrando já há algum tempo e quando ela engravidou foi um escândalo.
 
Os dois casaram-se rapidamente. Não deu nem tempo de Mariana assimilar o que estava acontecendo, mas ficou muito magoada e desde então passou a odiá-los como nunca tinha imaginado que fosse capaz de odiar alguém...
 
O casamento de Severina durou pouco. Jorge abandonou-a e desapareceu deixando-a só com o filho para criar.
 
Naquela época, uma mulher separada era muito mal vista e Mariana acabou de rotular a ex-amiga: Uma desclassificada de quem ela tinha que esquecer que um dia fora tão íntima.
 
Passou o tempo.
 
Mariana casou-se muito bem, foi muito feliz no casamento e teve uma linda filha a quem deu o nome de Maria Aparecida.
 
Foi quando a Cidinha, vinte anos mais tarde, arranjou seu primeiro namorado que a antiga história voltou à tona, pois o rapaz era, nada mais nada menos, que o filho da Severina.
 
Que ironia!
 
Mariana fez tudo o que pode para evitar o casamento. Conselhos, lágrimas, chantagem, castigos, brigas, mas nada funcionou.
 
- Você não pode casar com ele! A mãe dele não vale nada.
- E daí? Que culpa ele tem disso?
- Teve péssima educação, até o nome dele é ridículo, Esly! Isso lá é nome de gente? Com tantos nomes cristãos, bonitos, pôr um nome desses numa criança, só mesmo dois idiotas com a Severina e o Jorge!
- Ele podia chamar-se Francisco de Assis, João Batista, Luiz Gonzaga... mas, que diferença fazia se ele tivesse um desses nomes?
 
E por ai afora rolava a discussão entre mãe e filha, mas, Maria Aparecida e Esly estavam apaixonados e dificilmente os argumentos de uma mãe são ouvidos, principalmente quando a filha acha que é só implicância, que não existe nenhum motivo mais sério.
 
Já então os pais estavam perdendo o domínio sobre os filhos e, mesmo nas famílias mais tradicionais, as moças lutavam pelo que queriam e acabavam vencendo.
 
E realizou-se o casamento.
 
Muito a contragosto, Mariana foi obrigada a participar da cerimônia religiosa ao lado da Severina.
 
Até o Jorge ressurgiu das sombras e apareceu para a festa do filho e Mariana teve que entrar na igreja ao lado dele já que, de acordo com o protocolo, o pai do noivo acompanha a mãe da noiva no cortejo da entrada.
 
Mariana achava que Severina e Jorge estavam empanando o brilho da linda festa que preparara para o casamento da filha, estava inconformada, mas, fazer o que? Eles eram os pais do noivo!
 
Cada vez Mariana odiava mais os dois, entretanto. de agora em diante eram quase parentes e iam ter que conviver algumas vezes.
 
Mariana aconselhou Maria Aparecida a manter a maior distância possível da sogra, mas, para seu desgosto, Severina vivia metida na casa dos recém casados.
 
- Mariana não podia nem fazer uma visita á filha, pois cada vez que chegava lá encontrava a outra, muito a vontade, como se estivesse em sua própria casa.
 
Aquilo a enchia de raiva e de ciúme, pois estava percebendo que a sua filhinha estava se afeiçoando a ela.
 
Severina era prestativa. Estava sempre pronta a acertar uma barrinha de calça, passar uma camisa ou fazer um bolo e a Cidinha achava natural que ela procurasse por eles, pois era muito só, o Esly era seu único filho e ela tinha vivido a maior parte de sua vida exclusivamente para ele.
 
Esly e Cidinha resolveram fazer uma viagem para comemorar o seu primeiro aniversário de casamento.
 
 
A mãe de Cidinha achou ótimo. Passar uns dias juntos em um lugar romântico, como uma segunda lua de mel, era, na opinião de Mariana o melhor que a filha podia fazer.
 
- Assim, pelo menos, eles ficam livres da presença de Severina, por alguns dias, pensou.
 
Qual não foi, porém, a sua surpresa quando a Maria Aparecida contou que a sogra ia com eles.
 
 - Que absurdo! Essa mulher não tem desconfiômetro! Você vai ter que agüentar essa intrometida tirando sua privacidade, atrapalhando seus programas. Que droga!
 
Se assim pensou, assim o disse a filha que retrucou:
 
- Ela não vai atrapalhar nada. Nós a convidamos porque ela é muito só. Se não for conosco nunca terá outra oportunidade de viajar.
 
E acrescentou com uma pontinha de ironia:
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