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Publicado: Quarta-feira, 23 de agosto de 2017

A Intensidade do Vínculo

Crédito: APCRC A Intensidade do Vínculo

Quando foi a última vez que você passou 5 horas de sua madrugada acordada se dedicando aos interesses de um outro que não você mesmo? Percorreu quilômetros num só dia para dar suporte a alguém importante? Ou passou dias e semanas olhando os aspectos positivos ao invés de se prender ao que não lhe agradava? Quando foi a última vez que disse a alguém o quanto essa pessoa é especial? Enfim, essas e outras tantas possibilidades de perguntas transbordariam páginas e páginas, todavia, a ideia aqui é levantar algumas questões acerca da importância do vínculo.

 

Por que nos vinculamos? Por que temos quase sempre a sensação de estarmos conectados com algumas almas nessa imensidão de corpos pulsantes? O aspecto social da espécie humana nos coloca nessa condição da necessidade do vínculo em todas as esferas da vida?

 

Penso que precisamos do outro para sobreviver, visto que quando chegamos ao mundo não passamos de “trambolhinhos” absolutamente inaptos, como dizia meu professor de Antropologia no tempo de faculdade. O bebê humano quando nasce necessita de cuidados e suporte até muitos anos após seu nascimento. 

 

Precisamos do outro para existir enquanto seres sociais, testemunhando nossas vidas e nos dando referência. E quando digo isso sobre precisar do “outro para existir” me refiro a situação basilar (básica) de que somente quando criamos a consciência da existência e a compartilhamos com seres similares e que vivem num contexto parecido é onde criamos o que somos hoje e tudo que nos sustenta enquanto seres de cultura, de consciência, de memória.

 

Vejamos uma situação hipotética para exemplificar a ideia: imagine um mundo onde só você existisse; caminharia por esse mundo, se alimentaria, se protegeria, e olharia para si mesmo em muitos momentos com questionamentos sobre sua vida (qual o sentido, por que estou aqui, o que é a realidade, eu de fato existo). Como poderia ter certeza se de fato existe, ou não, sem a presença de outros que validem e confirmem essa existência?

 

O advento da “consciência” nos traz também a necessidade da existência do outro para validar essa condição própria do existir no mundo. Sem o outro ficamos isolados e a consciência, e tudo que brotar dela, fica restrita a mera imagem de si mesmo.

 

O que adiantaria uma consciência sem a possibilidade de compartilhamentos significativos? Qual seria o sentido de existir no mundo sozinhos? De uma felicidade solitária? De amar isolado? Por que a vida teria algum significado sem que tivéssemos a oportunidade de trocar essa existência com outras existências e assim construir as bases sociais que nos colocam num patamar avançado de evolução?

 

Talvez tenhamos aqui chegado perto da resposta de umas das perguntas existenciais mais difundidas: Por que estou aqui nesse mundo? Qual o sentido da minha existência? O outro. 

 

A troca que estabelecemos com esse “outro”, que coabita no mesmo universo de sentidos e valores, coloca-nos numa condição que intensifica as ligações e ajudas e necessidades de interações significativas. Laços existenciais que promovem a ideia de responsabilidade mútua, que nos faz desejar e cultivar a intensidade do vínculo.  

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