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Publicado: Domingo, 14 de março de 2010

A inflexibilidade e as suas consequências

A inflexibilidade e as suas consequências
A inflexibilidade é a guardiã do comodismo...

Recentemente acompanhei uma situação de conflito familiar envolvendo filhos jovens e crianças. As brigas eram tão intensas e constantes que a confusão emocional dessas crianças refletiu diretamente na vida escolar. Por isso entrei em cena...  Após diversos encontros de orientação, o desempenho escolar se equilibrou e felizmente, o ano escolar foi garantido.  Mas a mágoa e o ressentimento entre os envolvidos deixaram cicatrizes profundas. Provavelmente irreparáveis.     

Esse caso tem tomado minhas reflexões e me incomodado, muito mais pela atitude dos adultos diante das crianças do que pela situação vivenciada. E aqui, é bom que se diga, que na vida, a forma como nos posicionamos diante dos conflitos é determinante para fazer crescer a coleção de sucesso ou de fracasso.  No contexto familiar as situações que motivam desentendimentos são sempre muito parecidas, mas de resultados diferentes - ora de sucesso, ora de fracasso. A diferença? A atitude e a postura de quem a conduziu.

Por isso tenho me perguntado: como possibilitar uma educação capaz de garantir à formação humana o controle das atitudes individuais em troca do bem comum? Como ensinar que a flexibilidade do pensamento pode salvar relacionamentos e preservar afeto e respeito entre as pessoas que se amam?

Tentei buscar respostas no conhecimento, não nas ciências isoladas, disciplinadas, fragmentadas.  Depois de muito caminhar já entendi que as respostas moram mesmo é no ponto de partida, onde reina a Poderosa Filosofia, mãe de todas as ciências...  Aliás, é sempre nela que encontro o conforto, o alento, o antídoto.

Há sempre uma filosofia por trás das nossas ações. Na maioria das vezes, ela está escondida no inconsciente. Fazemos ou falamos coisas porque construímos a própria maneira de pensar e determinamos para a realidade, que é assim que deve ser.   

Por isso, também, somos inflexíveis. A inflexibilidade é a guardiã do comodismo. Devo explicar: é altamente trabalhoso e, para alguns, vergonhoso assumir o movimento necessário e constante dos conceitos subjetivos construídos ao longo da nossa história. Em outras palavras: sustentamos a falsa imagem que abrir-se ao novo e permitir-se humano, pode parecer fraqueza ou insegurança, sobretudo diante dos filhos, alunos ou funcionários. 

Jostein Gaarder, filósofo norueguês, autor de “O Mundo de Sophia”, diz que “(...) a história do pensamento, ou da razão, também é como a corrente de um rio. Ela contém todos os pensamentos formulados por gerações de pessoas antes de você; e todos esses pensamentos determinam a sua maneira de pensar do mesmo modo como também o fazem as condições de vida do seu próprio tempo. Assim, não podemos afirmar que determinado pensamento está certo para sempre. Este pensamento pode estar correto no ponto em que você se encontra.”

Assim, fica fácil compreender que o grande desafio do homem, já dito pela Filosofia em tempos distantes, é permitir-se mutável, numa longa e solitária viagem de autoconhecimento, para entender que nem todas as pessoas se encontram no mesmo ponto que você.  E nem por isso são melhores ou piores, apenas diferentes.

Essa diferença é o que nos faz inflexíveis. Desejamos que as pessoas pensem como a gente, por isso brigamos tanto com os filhos adolescentes... Eles estão em outro ponto da corrente do rio.

No entanto, ouvir a Poderosa Filosofia, mãe de todas as ciências, pode ser a melhor forma de aprendermos a controlar os impulsos egocêntricos em favor do equilíbrio da vida em grupo. 

Afinal, somente quem domina seus próprios sentimentos é capaz de alcançar os sentimentos do outro.

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