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Publicado: Domingo, 3 de fevereiro de 2013

A idade chega

A idade chega.

Mas, nestes tempos modernos não chega a causar sustos ou desânimos ou maiores preocupações.

É reconhecido hoje aos idosos um patamar, diga-se talvez, de maior liberdade individual, até porque a longevidade, sempre crescente, é um fato incontestável. Vive-se mais, sente-se maior disposição e, principalmente, do ponto de vista mental, eles permanecem arejados e conscientes.

Tem essa categoria de pessoas sabido usufruir das mais variadas formas de entretenimento, nelas incluído o turismo local ou internacional, desfrutado como nunca.

Todo esse vento a favor, porém, é gradativo e, graças a Deus, permite dizer que o ativo ancião de hoje representa uma postura em nada parecida com  o hábito provecto e talvez fechado de outrora.

Como se destacou ali, logo na abertura, muito dessa evolução é mérito deles próprios, dos simpáticos velhinhos.

De um lado, a lei da vida, de que filhos se criam para os outros e, de outro lado, de que, da parte destes, não é pequena a quantidade dos que acham que seus pais, que afinal os embalaram no colo um dia, às vezes incomodam.

Uma vista mais atenta fará perceber como não são poucos os venerandos senhores e senhoras, serem visitados ocasionalmente nas casas de repouso e nos asilos. Quando são visitados.

Sirva a crônica de hoje para a defesa aferrada de uma tese, a de que aos idos em idade se lhes conceda o direito de ter suas manias, desde que não danosas a eles próprios ou a terceiros. Quem não alimenta, um ou outro costume pessoal, até mesmo antes da idade provecta, aquelas predileções de ordem eminentemente particular?

Chegam os filhos e as filhas e, sob pretexto de carinho e atenção, escolhem a poltrona, a cama, o que seja permitido comer, hora de sair ou de ir para o leito. Os programas de televisão, nem se diga. A preferência de todos na casa se antecipa à deles. E evidente que eles, vencidos e abatidos, se lhes falaram por falar, se é possível mudar de canal, os velhinhos assentem, fazem de conta que não ligam.

Um exemplo bisonho e conscientemente exagerado: Diga-se que o vovô gostava de ver televisão deitado no sofá, cabeça recostada num travesseiro. Fatalmente se lhe dirá que aquela posição o prejudica e até a coluna, que não anda bem.

- O senhor parece criança! E depois reclama de dores!

Por isso que, felizmente, cada vez mais evoluem os clubes da terceira idade, nos quais, aliás, nem seria de se apresentarem brincadeiras ingênuas em excesso, na esteira equivocada de que velhinhos se tornam crianças de novo.

Pode-se admitir uma situação de atenção diferenciada para com eles, em casos extremos. Até porque fatalmente a percepção cede lugar a desvios de conduta, por esquecimento, perda quase completa de memória, uma fase senil mais aguda. Aí sim precisam de acompanhamento que os ajude a se definir ou se comportar.

Esse estado de espírito ou de saúde mais precário, como se asseverou, a cada dia, pelo avanço da medicina e pela proliferação das academias, só acontece – quando acontece - agora bem mais tarde. Tanto é assim, que existem enfermidades que levam à morte sem que a lucidez abandone o paciente.

Ouviu-se de um desses conselheiros que atuam na mídia, que os pais não podem exigir que os filhos os amem, mas podem exigir respeito, mais que isso, têm direito a esse requisito.

Soa realmente muito estranha essa assertiva, apesar de que em parte é de se curvar a essa dura realidade, de que não se há de esperar necessariamente afeto de filhos para com os pais.

 Em tempos outros, não era assim.

Os pais eram paparicados, respeitados e assistidos com todo carinho.

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