Colunistas

Publicado: Terça-feira, 11 de abril de 2017

A Gastronomia como produto turístico

A Gastronomia como produto turístico
Em Belém, é comum a degustação do tacacá

Semana curta com feriado religioso, cheia de afazeres, compromissos, aquela correria! Assim a vida passa depressa demais... mas estamos bem e isso é uma alegria.

Estive em Belém no fim da semana passada, que acompanha o Blog da Gavioli já sabia. Minha ida pra lá que me fez lembrar de um texto que escrevi há algum tempo. O conteúdo tem tudo a ver com o que senti na capital do Pará.

Se achar que já leu esse artigo antes, não é só impressão, portanto. Trata-se de um "texto requentado" (juntando o jargão culinário e o jornalístico), mas nem por isso fora de hora.

Como a Gastronomia pode contribuir para o turismo e a sustentabilidade de um lugar? A resposta é complexa, mas pra resumir tem alguns pontos, a meu ver, mais relevantes.

Só para dar um sentido histórico, no Brasil, desde que os trabalhadores passaram a ter direito a férias remuneradas (ao menos os que são contratados pelo regime CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas) e a usar esse período de descanso também para viajar e conhecer novos lugares e culturas, como consequência inevitável, começaram também a experimentar outros sabores, que não os de seu uso comum.

Para que o turismo se desenvolva não basta que os lugares tenham atrativos históricos, como museus e igrejas, ou águas termais e belezas naturais. Três condições mínimas de infraestrutura são necessárias: meios de transporte, opções de hospedagem e lugares para uma alimentação adequada, seja para preparar, comprar ou consumir no local. A gastronomia como produto turístico está ainda um passo além dessas necessidades básicas de infraestrutura.

Eu me lembro de quando era criança, íamos, às vezes, a excursões de um dia. Saíamos cedo, de madrugada, de ônibus para cidades como Campos do Jordão, Águas de Lindoia ou Poços de Caldas. Para comer levávamos lanches preparados em casa, fazendo uma espécie de piquenique. Naquela época, já existiam restaurantes para os turistas, mas eram caros para os nossos bolsos. De lá pra cá, muita coisa mudou. Embora o prazer do piquenique no ônibus ainda exista, há muitas mais opções de restaurantes, lanchonetes e bares para atender a qualquer padrão financeiro dos viajantes. Isso não é necessariamente turismo gastronômico.

Embora já fosse praticado há muito mais tempo, foi só nos anos 90 que o turismo feito em busca de novidades ao paladar foi batizado como turismo gastronômico. O que antes já acontecia, mas era apenas parte de uma viagem, passa a ter uma nova interpretação. Os interesses comerciais se expandem dando maior relevância aos que viajam para degustar vinhos, cachaças, cervejas, whiskies ou comer pratos exóticos e provar temperos regionais, ou seja, surge um propósito novo, o de aprender sobre a cultura gastronômica de um lugar.

A gastronomia como produto turístico leva em conta uma culinária regional, autônoma, específica e exclusiva de um lugar. O que o turista gastronômico busca é a comida que para o cidadão local é comum, porque tem ingredientes regionais, é feita por pessoas que aprenderam localmente, com familiares ou conterrâneos, mas não dá para esquecer que a gastronomia é um ramo que exige qualidade. Ela abrange a culinária e seus ingredientes, a bebida e suas especificidades ao ser produzida, os utensílios de cozinha, mas não é qualquer comida que a caracteriza. Para ser gastronomia é preciso que se preserve o valor da comida, com ingredientes de qualidade e técnicas de preparo - que não são somentes as praticadas nas renomadas escolas de culinária. Isso tudo para dar prazer ao redor da mesa, oferecer experiências que, se não são únicas, valham ser repetidas.

Para que se torne um produto turístico a arte das panelas deve ser rica, diversificada, artesanal, deve prezar pela excelência a fim de agradar o cliente, que se tornará um amigo e vai querer voltar e repetir a experiência, criar uma relação mais duradoura, guardar aquele momento na memória e contar para outros que buscarão experimentar também. Assim, a gastronomia como produto turístico é um forte pilar da sustentabilidade local.

Atualmente, há uma enormidade de produtos criados para o turista a partir do apelo da gastronomia. Como tudo, sem o devido tratamento, pode se tornar banal e perder o atrativo. A gastronomia e o turismo andam de mãos dadas, o que não significa dizer que um não sobreviva sem o outro, mas é que juntos se potencializam. Essa é a grande sacada!

Em Belém, a gastronomia tem contribuído fundamentalmente, nos últimos anos, para que reconheçamos o estado do Pará e sua fascinante contribuição para a cultura brasileira.

Vamos falar mais desse assunto em outras oportunidades. 

Comentários