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Publicado: Sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

A Fusão Afetiva

Crédito: APCRC A Fusão Afetiva

Qual é a questão com os relacionamentos? As pessoas não nascem grudadas e sim escolhem compartilhar certas esferas da vida privada com um “outro estranho”, que vai compor a atmosfera familiar conforme os anos de convivência forem sendo somados.

 

E por isso mais uma vez indago: Por que algumas pessoas quando estão dentro de uma relação se comportam como se estivessem fundidas ao corpo do parceiro recém chegado à uma vida de anos anteriores?

 

A fusão descaracteriza, despersonaliza, leva a uma quase que total perda da própria identidade. Quem sou eu? O que gosto de fazer? Quais são meus sonhos? Quais eram minhas metas antes da relação? Enfim, as pessoas se esquecem que o parceiro se atraiu inicialmente justamente por essa pessoa inteira, plena, repleta de sonhos e expectativas e não pela distorção fundida ao seu corpo e hábitos depois de alguns meses ou anos após o relacionamento ter começado.

 

A despersonalização cria ou estimula uma dependência emocional nociva, visto que a pessoa não consegue mais ou vai perdendo a capacidade de identificar em si as características que lhe fazem sentido. Toda relação com o universo ao seu redor passa a ser medida pela influência direta dos afetos e significados “do outro”, com o qual se escolhe estar em relacionamento.

 

Pessoas que se encontram numa atmosfera de vida muito embaralhada, ou literalmente perdidas, tendem a apoiar o significado de sua própria existência nas expectativas e hábitos do parceiro, esquecendo-se que essa busca por identificação, autoconhecimento, libertação emocional, é particular, única, e não deve ser deixada a mercê das escolhas de um outro alguém que não você mesmo.

 

Ame. Viva. Sinta a energia que emana de corpos desejosos. Almeje a reciprocidade. Tenha a intensidade como parâmetro da existência. Conviva. Respeite. Tome as rédeas da vida que é sua. Seja sujeito de sua própria história. Carregue os fardos de suas escolhas. E aprenda a viver com suas dores. Compartilhe. Transborde. Não permita a mutilação de sua essência. Não autorize a redução de seus sonhos. Vá. Corra atrás. Transcenda.

 

A vida humana é feita para ser compartilhada e não dizimada por pequenezas perceptivas ou por medos excessivos, que tolhem o movimento saudável de crescimento pessoal. Apoiar-se totalmente na vida alheia representa uma alienação si mesmo para mergulhar na realidade afetiva do outro, perdendo assim a capacidade criativa de se aprofundar no conhecimento de sua própria existência.

 

O medo do desconhecido não deve ser maior que o ímpeto de sentir a vida em sua plenitude. Qual o sentido da vida e, principalmente, qual o sentido da vida humana? O que a consciência promove ao humano que tanto nos diferencia dos demais animais? Ela cria a noção de finitude material, constrói a ideia de responsabilidade e acalenta o conceito de amor como uma partilha afetiva que perpetua por entre os tempos. Somos finitos no corpo e eternos nas memórias afetivas compartilhadas com outras vidas, transbordando saudade em tudo aquilo que toca em essência. Deixamos resquícios de nós nos sentimentos do outro, na lembrança viva que é eterna e transita nas gerações vindouras. Somos finitos no corpo material e eternos no amor que conseguimos partilhar. 

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