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Publicado: Segunda-feira, 12 de março de 2018

A fuga da polícia rodoviária das estradas

O inspetor Carlos e seu cão Lobo perseguiam e prendiam bandidos nas estradas. Montado numa Harley Davidson ou ao volante de um Simca Chambord, o Vigilante Rodoviário era um herói, por quem as moças suspiravam e a quem os rapazes imitavam. Alto, forte, valente e bonitão o herói das estradas representava o policial rodoviário orgulho dos brasileiros. O seriado televisivo começou em 1961 e durou eletrizantes 38 episódios. O ator Carlos Miranda ainda fez carreira na Polícia Rodoviária, onde se aposentou.
     
Em 2018 o cenário das estradas é tenebroso. Na esteira do desastre dos governos Lula e Dilma, o corte de verbas abriu buracos nas estradas e causou uma debandada da polícia rodoviária. Muitos postos nas estradas federais estão desativados, abandonados e destruídos. Nenhum policial dá as caras por lá, com medo dos bandidos que buscam armas, uniformes e viaturas. Nas rodovias pedagiadas os policiais foram substituídos pelos empregados das concessionárias, os quais não tem poder de polícia.
     
BR 116, Regis Bittencourt, domingo 4 de março de 2018. Um caminhão acidentado à margem da rodovia é saqueado por uma multidão. Caixas de biscoito Bauducco são levadas às dezenas, sob os olhares passivos dos empregados uniformizados da concessionária Arteris, preocupados com a invasão da pista e acidentes com atropelamento. Um congestionamento de 10 km. Nenhum policial à vista.
   
No lugar dos policiais sumidos dos postos rodoviários, uma infinidade de radares e lombadas, desnecessários em vista da profusão de buracos. Mais de três mil cargos estão vagos no país, à espera de dinheiro para bancar os concursos e a operação da tropa. Mais um componente da falência do Estado na área da segurança pública. O usuário das rodovias que paga IPVA, pedágio e muitos outros impostos, se vê à mercê dos criminosos e contando somente com a ajuda de outros motoristas.
     
Com a polícia acuada nos quartéis, a bandidagem tomou conta das estradas. De 2011 a 2016 foram registradas 97.786 ocorrências de roubos de carga, uma grande parte nas rodovias do país. A cada 23 minutos ocorreu um roubo de carga dos caminhões. Um prejuízo material de mais de 6 bilhões de reais e um trauma constante para os motoristas. Os fretes para o Rio de Janeiro tiveram um aumento de 35%, pois a cada hora um caminhão é roubado por lá.
     
Carlos Miranda, aos 84 anos, deve estar sentindo uma nostalgia dos seus tempos de herói. A imagem do policial rodoviário perdeu o encanto e a confiança dos motoristas na proteção das estradas desapareceu.
     
Não há a mínima esperança na solução do caos do serviço público a curto ou médio prazo. Teremos que conviver com a precariedade da saúde, educação e segurança por longos anos. Ou quem sabe, mudar para Portugal, como muitos brasileiros fazem hoje.

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