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Publicado: Domingo, 1 de julho de 2012

A falta de respeito ao advogado I

A falta de respeito ao advogado I

Com nove anos de profissão, talvez cedo, mas o suficiente para perceber que ser advogado em nosso País não é fácil, resolvi escrever essa matéria para deixar em primeiro lugar um alerta para a falta de respeito que um profissional essencial à Justiça passa todos os dias e para que algumas pessoas ao lerem está matéria pensem um pouco antes de cobrar e julgar o trabalho intelectual desenvolvido por nós.

Você estuda cinco anos da sua vida para se formar. Após quando acha que terminou, na verdade esta começando, pois precisa passar no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil para poder começar a exercer a profissão.

Vou pular aqui a vivência como estagiário, pois renderia uma grande matéria, mas no meu caso, estagiei na área desde o terceiro ano da faculdade e isso muito me ajudou a adquirir parte da experiência que tive hoje.

No começo a maioria de nós resolve advogar para parentes e depois descobre que não deveria ter feito isso, pois se você ganha o processo é tido como uma obrigação e se não ganha, é porque você fez pouco caso e por ter cobrado pouco ou nada, não tinha interesse, isso na maioria dos casos, sem generalizar claro, pois sempre se salvam exceções.

Vou explicar o caminhar de um processo:

Pois bem, você entra com a ação e o cliente na maioria das vezes acha que irá resolver o problema em meses e culpa você pela demora na solução do litígio.

Vamos lá, assim como expliquei para alguns clientes, vou explicar aqui como funciona.

Primeiro você entra com um processo (folhas aonde o advogado dele coloca parte do conhecimento de mais de cinco anos de estudo para defender você). Depois disso, essas folhas seguirão para um cartório, aonde funcionários que já possuem um monte de trabalho para ser realizado, irão montar o processo, ou seja, colocar uma capa neste. Da distribuição até a montagem do processo, o que chamamos de autuação, podem demorar semanas, isso mesmo, semanas, às vezes, até um mês.

Após o processo ser montado, dependendo do que se discute, seguirá para o Juiz, o qual determinará que primeiro o Promotor de Justiça se manifeste, o qual com a grande demanda, não analisará o seu processo assim que ele ali chegar.

Só este tempo do cartório para a sala do Juiz pode levar algumas semanas. O processo não será analisado assim que chegar ao Gabinete do Juiz, pois certamente o Magistrado já terá a remessa anterior para terminar e nisto mais algumas semanas se passam. Fora que o processo saíra da sala do Juiz e seguirá novamente para o Cartório, o qual fará a remessa para o Promotor, se for o caso. Após algumas outras semanas, ou até meses, o seu processo saíra da sala do Promotor e seguirá novamente para o Cartório e depois para o Juiz.

Após essa análise inicial de um processo, na volta deste para o Cartório, deverá ser feito o mandado de intimação da parte contrária para que esta se defenda. Pronto, seu processo entrará na fila novamente, pois o funcionário provavelmente terá outros na frente para fazer o mandado de intimação. Com isso, mais algumas semanas se passam. Depois ainda há a distribuição do mandado para que o Oficial de Justiça intime a parte contrária.

Com a juntada no processo desta citação, a qual pode demorar mais de trinta dias para ser realizada, seguimos mais algumas semanas para juntarem o mandado no processo (o que é feito por um funcionário do cartório). Depois disso, aguarda-se o prazo de defesa previsto na lei e depois ainda uma semana, pois o advogado da parte contrária pode ter feito este protocolo em outro Fórum.

E resumidamente, depois de todo este caminho, o Juiz irá novamente analisar o processo, poderá marcar uma audiência de conciliação e tudo isso demandará mais e mais semanas. Depois de tudo, quando já do julgamento do processo (e aqui pulamos mais algumas etapas que demoram semanas, como por exemplo, o Juiz determinar a juntada de algum documento, perícias a serem realizadas, dentre outros), a parte que perdeu ainda poderá recorrer e é como se iniciássemos tudo novamente, só que ainda mais demorado.

Junto de tudo isso, temos a falta de paciência dos clientes que em sua grande maioria não entendem isso, além da má vontade da maioria dos funcionários públicos, os quais não ganham o que merecem diante da carga de trabalho a qual não dão conta, além do fato de muitos não colaborarem muito com a presteza e determinação que deveriam, sem contar a falta de funcionários.

Além disso, temos o fato de existirem muitos escritórios de advocacia os quais são geridos como se fossem indústrias de processo, não dando o devido valor aos profissionais, com baixos salários e falta de liberdade para colocarem em prática o que sabem de melhor e ficaram anos para aprender.

Confesso que já me decepcionei muito dentro desta profissão e muitas vezes penso em deixá-la, mas me considero um bom profissional e não vou desistir tão fácil, acredito que tudo isso faz parte da luta e que um dia o Poder Judiciário irá melhorar, enquanto isso, a palavra que reina é a PACIÊNCIA.

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