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Publicado: Sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A Ética das Relações

Crédito: APCRC A Ética das Relações

O que define as relações interpessoais? Como devemos nos portar diante das necessidades e desejos do outro? Qual a conduta correta?

 

Toda constituição social tem suas regras de convivência, com textos de lei e inúmeras diretrizes legais e culturais. Todavia, além desses aspectos mais formalizados, também operamos com as ideias que envolvem a esfera da afetividade.

 

As leis ou acordos legais de convivência não vieram antes das relações interpessoais. Primeiro coexistimos e depois a necessidade de estabelecer parâmetros nessa relação urgiu da própria prática de vida conjunta.

 

As relações interpessoais, bem como as relações humanas como um todo, são arquitetadas na demanda de um sentimento de pertencimento a um grupo, que te reconheça e te sustente enquanto um ser vivo inteiro, pleno em suas dimensões existenciais.

 

Quanto mais recheada de preconceitos e machismos e limitações perceptivas, maiores são as chances de presenciarmos interações hostis e desrespeitosas entre os indivíduos que compõem um coletivo. A ignorância (o desconhecimento) carrega em si o ranço da animosidade e desvirtua tudo o que toca com suas garras afiadas.

 

Uma sociedade composta ainda por altos índices de violência contra a mulher, de abusos contra crianças, bem como outros tipos de violência, carece de mudanças estruturais em termos de conhecimento, de direitos humanos e de bases culturais fundamentadas no pensamento empático.    

 

Ao se colocar no lugar do outro, sem necessariamente estar lá de fato, é possível transcender numa experiência solidária de reconhecimento do direito da existência alheia, com toda a bagagem de dores e amores que a mesmo carrega todos os dias.

 

A conduta correta está intrinsicamente relacionada com o que provocamos no outro dentro da interação. Não existe certo e errado sem levar em consideração o contexto de vida em que vivemos juntos todos os dias. As consequências são o produto das escolhas e trocas e devem ser refletidas com seriedade, a fim de não imputar ao outro sofrimentos desnecessários e cruéis. A vida humana não é descartável e por isso precisa ser respeitada como algo que vai além das superficialidades. Os sentimentos são a energia motivadora das relações e, sendo assim, devem ser considerados como algo sagrado, algo que sela o acordo de almas e proporciona toda uma identificação acolhedora.

 

Ninguém é detentor do conhecimento absoluto, dos sentimentos verdadeiros universais e do direito de entrar e sair da vida das pessoas provocando severos estragos. Há a necessidade de responsabilizar àqueles que prejudicam o outro gratuitamente, por prazer ou por puro e simples desleixo ou desinteresse.

 

Por que despertar no outro aquilo que não se dá conta de lidar? Qual o propósito de explicitamente manipular sentimentos com a intenção apenas de satisfazer impulsos egóicos mal resolvidos? Levar turbulências para a vida das pessoas numa tentativa oca de diluir seus próprios infernos psíquicos?

 

A ética das relações clama por um pensamento genuinamente solidário. Olhar a existência do outro com a clemência de corações caridosos. Sentimentos compartilhados por uma única cadência de vida. Estamos todos aqui, habitando esse planeta, nesse tempo histórico, coexistindo com as dores e amores de uma civilização amparada na memória dos que vieram antes de nós. Somos o que fizeram de nós, mas, acima de tudo, somos o que escolhemos ser e carregamos em nós todo um potencial transformador da realidade. 

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