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Publicado: Sábado, 8 de abril de 2017

A escassez de homens e suas causas

(Tá faltando homem, segure o seu ou aprenda a viver sem).

Renato era um menino saudável e bonito, nascido de uma família de classe média, devotada aos filhos. Viveu até os seis meses, vitimado por uma infecção pulmonar. Sua irmã, dois anos mais velha, resistiu a todas as enfermidades próprias do neonatal e cresceu saudável como uma leoa.

“As complicações no período neonatal estão ligadas às diferenças hormonais entre homens e mulheres. O estrógeno, hormônio feminino, tem um efeito protetor e garante um sistema imunológico mais forte. É por isso os meninos recém-nascidos costumam ter mais infecções do que as meninas”.

Carlinhos sempre foi muito levado. Hiperativo, praticava esportes radicais, motivo de preocupação dos pais. Aos 18 anos ganhou seu primeiro carro e saiu detonando pelas ruas e estradas. Após vários acidentes menores, encontrou a morte numa curva de estrada de montanha, a mais de 100 quilômetros por hora.

“A testosterona, hormônio masculino, está ligada a comportamentos de risco como agressividade e violência, que colocam o homem em situações de vulnerabilidade e diminuem sua expectativa de vida. Eles correm esses riscos naturalmente, para proteger a sociedade, e são treinados para fazer isso sem questionar”.

O negro Cleverson nasceu na favela, pais separados, mãe drogada e pai cumprindo pena na cadeia. Frequentou os primeiros anos da escola e evadiu-se, como a maioria dos jovens em áreas de risco. Tornou-se refém do tráfico, primeiro como aviãozinho e depois como traficante, até ser morto aos 21 anos, pela quadrilha rival num confronto costumeiro.

“O Brasil ostenta os piores índices de criminalidade de países sem guerra. Oshomicídios são hoje a principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos, e atingem especialmente jovens negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos. Dados do Ministério da Saúde mostram que mais da metade dos 56.337 mortos por homicídios, em 2012, no Brasil, eram jovens (30.072, equivalente a 53,37%), dos quais 77,0% negros (pretos e pardos) e 93,30% do sexo masculino”.

Américo teve a sorte de crescer no seio de uma família religiosa, trabalhadora e que o apoiou fortemente na educação. Aos 22 anos obteve sua primeira graduação como contador e o primeiro emprego numa empresa renomada de auditoria. Cresceu na carreira e aos 44 anos assumiu a diretoria financeira de uma organização estrangeira. Com três filhos e arrimo dos pais, lavorou incessantemente e descuidou da saúde. Morreu de infarto súbito, vítima de stress e burnout.

“Situações estressantes levam a produção de adrenalina e corticoides. Tais substâncias geram arritmias, alteração da pressão arterial e aumento do risco de trombose e coagulação sanguínea. Tudo isso é um prato cheio para um infarto ou AVC e os homens são as vítimas prediletas”.

George é um modelo de beleza masculina. Frequentador de academia, culto, aos 25 anos se acha na plenitude de suas faculdades físicas e intelectuais. Um garanhão cercado de garotas apaixonadas. George, porém, decidiu se casar com seu melhor amigo. Dupla perda para o mundo feminino.

“Nascem 51% de homens contra 49% de mulheres. Sábia natureza, incapaz, porém, de compensar os inúmeros fatores que levam à estatística definitiva: no Brasil são 105 milhões de mulheres em comparação com 98 milhões de homens. Sobram sete milhões de mulheres, à procura de um par”.

Renato, Carlinhos, Cleverson e Américo não chegaram à idade madura. Foram abatidos pelas condições ambientais e culturais que reduzem a população de machos.

Se você já tem o seu, proteja-o bem. Ou senão, aprenda a viver sem, como as mulheres independentes tem feito.

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