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Publicado: Sexta-feira, 26 de junho de 2015

A Educação na Casa Comum

A encíclica Laudato Si - sobre o cuidado da casa comum - apresentada ao mundo pelo Papa Francisco no dia 18 de junho, traz várias e importantes referencias à educação. No capitulo VI, n. 209, por exemplo, afirma que "A consciência da gravidade da crise cultural e ecológica precisa de traduzir-se em novos hábitos... Por isso, estamos perante um desafio educativo".

Mais adiante (n.215), o documento diz que "A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis, se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza. Caso contrário, continuará a perdurar o modelo consumista, transmitido pelos meios de comunicação social e através dos mecanismos eficazes do mercado".

Também recém lançado, o livro Educação e Sustentabilidade, de Maria Alice Setúbal, converge para essa visão de urgência e desafio: "Tomar a sustentabilidade como eixo articulador das condições do tempo presente com uma proposta de futuro sustentável... essa sustentabilidade que é econômica, política, social e cultural, pode também orientar as ações na educação (p.20)".

A autora é presidente da Fundação Tide Setúbal e do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ação Comunitária (Cenpec). O livro é baseado na experiência prática destas instituições, especialmente do projeto Educar na Cidade, coordenado pelo Cenpec, que refletiu sobre princípios e valores para a educação do século 21.

Ela afirma que "pensar a escola como espaço educador sustentável demanda mudanças revolucionárias de princípios, percepção e valores (p.24)". E mais adiante: "Talvez a mudança socioeconômica mais radical a enfrentar seja a ruptura com um modo de vida pautado pelo consumo (p.37)".

O conflito entre consumo e sustentabilidade parece ser ponto comum entre as diversas abordagens ambientais que compõe o discurso de cientistas, políticos e ativistas. A educação nem tanto.

Embora concordem quanto à importância da educação ambiental, esta aparece quase sempre como um esforço acessório, utilizado em ações de grande impacto, como a implantação de obras de infraestrutura ou em campanhas específicas como reciclagem ou economia de água.

As estratégias de desenvolvimento ou retomada econômica são, via de regra, estratégias de consumo. Foi assim nos Estados Unidos após o 11 de setembro e no Brasil do Bolsa Família. E até o momento os grandes encontros ambientais como as Conferencias do Clima e da Biodiversidade não avançaram muito em conter os ímpetos do mercado.

Mas tanto a encíclica de Francisco quanto o livro Educação e Sustentabilidade se referem à educação formal e não formal como caminho para a transformação. Para o Papa, "vários são os âmbitos educativos: a escola, a família, os meios de comunicação, a catequese... Na família, cultivam-se os primeiros hábitos de amor e cuidado da vida, o uso correto das coisas, a ordem e a limpeza, o respeito pelo ecossistema local e a proteção de todas as criaturas. A família é o lugar da formação integral, onde se desenvolvem os distintos aspectos, intimamente relacionados entre si, do amadurecimento pessoal. Na família, aprende-se a pedir licença sem servilismo, a dizer «obrigado» como expressão duma sentida avaliação das coisas que recebemos, a dominar a agressividade ou a ganância, e a pedir desculpa quando fazemos algo de mal. Estes pequenos gestos de sincera cortesia ajudam a construir uma cultura da vida compartilhada e do respeito pelo que nos rodeia".

Maria Alice destaca em seu livro a importância da educação como estímulo da participação cidadã: "Como viabilizar a participação ativa e estruturada... de maneira a influenciar o funcionamento do Estado e da vida social? É nesse contexto que a educação ganha um papel fundamental, considerando-se que os processos participativos exigem aprofundamento dos conhecimentos sobre os temas em pauta, fluência na expressão oral e escrita, capacidade de argumentação, negociação, habilidade para acessar, selecionar e analisar informações de modo a construir conhecimentos (p.131)".

E mais adiante registra um depoimento de uma integrante de comunidade escolar da zona leste de São Paulo: "No momento em que eu voto, eu escolho uma ideia... eu escolho uma pessoa que vai colocar em prática essa ideia que eu tenho do que é governar. Só que, depois disso, eu não posso parar de participar da política... tenho que acompanhar os passos da pessoa que escolhi... Preciso dar conta disso... pra isso a gente tem que ter uma ferramenta chamada conhecimento (p.151)".

Aqui em Itu, a experiência da implantação e consolidação da APA Pedregulho percorre alguns destes caminhos, em projetos distintos e autônomos, que convergem para objetivos comuns. O próprio reconhecimento daquela região rural como Área de Proteção Ambiental dentro dos parâmetros do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), seja pela importância de seus recursos hídricos, pela singularidade de sua paisagem ou seus atributos socioculturais já é uma enorme conquista.

A elaboração do Plano de Manejo, incluindo no processo oficinas de educação ambiental, também responde positivamente às necessidades do território e amplia essa conquista.

Outro destaque é um audacioso projeto de restauração florestal, em andamento em algumas fazendas do bairro, com milhares de espécies nativas já plantadas, monitoradas e em pleno desenvolvimento. Simultaneamente, um amplo estudo socioeconômico e ambiental logrou apresentar diretrizes que auxiliaram na constituição da APA e devem contribuir ainda mais com o Plano de Manejo.

Além disso, há o Projeto Território Vivo, de cunho socioambiental, que trabalha junto das comunidades rurais. Uma das ações, a Biblioteca Itinerante, leva livros e atividades literárias para as crianças e jovens e realizou recentemente a Semana Literária Território Vivo, em parceria com escolas de Itu e Cabreúva que atendem a este público.

Os alunos destas unidades receberam a visita de autores e contadores de histórias: uma inusitada aula sobre dinossauros com professor e autor Luiz Anelli, da USP; um pocket show com a autora e atriz Ana Lacombe e seu ukelelê; o grupo Semeando Encanto, com a temática ambiental, do cuidado e da paz; as narrativas de Vanessa Meriqui, Zé Bocca, Fabiana Prando e Celina Bondenmüller. E Ilan Brenman, considerado um dos mais importantes autores de livros infantis do Brasil,

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