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Publicado: Terça-feira, 27 de março de 2018

A dura vida do pobre sem educação financeira

"A prosperidade de alguns homens públicos é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento” (Stanislaw Ponte Preta)


Genival, que nunca leu jornal, comprou uma geladeira em 12 prestações e irá pagar R$ 2300,00 pelo eletrodoméstico. Ele tem uma geladeira velha funcionando e também uma poupança de R$ 1600,00. Caso esperasse mais uns três meses poderia ter comprado por R$ 2000,00, que era o valor à vista. Mas decidiu pagar R$ 300,00 a mais, atraído e enganado pelas 12 prestações “sem juros”. E lá se foram 15%, uma taxa de rendimento que a poupança jamais alcançará em 12 meses. Genival não sabe calcular percentagem, nem tem paciência para esperar o dinheiro acumular, coisas comuns aos brasileiros.

Só 8% dos brasileiros dominam, de fato, português e matemática, concluiu o estudo Alfabetismo no Mundo do Trabalho, que mede habilidades de leitura, escrita e matemática na população de 15 a 64 anos. Cálculo de porcentagem, então, é conhecimento avançado para os restantes 92%, porcentual no qual se encaixa o nosso personagem.

Existem no país 27% de analfabetos funcionais, ou seja, pessoas que não sabem ler ou escrever, ou no máximo conseguem ler textos curtos de baixa complexidade, sem interpreta-los. E não são capazes de resolver problemas matemáticos simples. É uma massa de mais de 30 milhões de cidadãos vivendo à margem do mundo do conhecimento. E não é por falta de estudos escolares. Cerca de 44% dos pesquisados indicaram que cursam ou completaram o ensino fundamental, 40% terminaram o ensino médio e, pasmem, 17% cursam ou concluíram a educação superior. Quem tem paciência de ler os comentários postados no Facebook é capaz de avaliar o grau de ignorância revelado nas pesquisas.

Os tropeços na matemática é que causam danos maiores àqueles que pouco tem e nada podem perder. Na hora de gastar são iludidos pelas promoções enganosas, na hora de investir são assaltados pelas altas taxas de administração cobradas pelos bancos e na hora de ganhar são incapazes de negociar em seu favor. Quando tomam empréstimos, então, são devorados pelas escorchantes taxas de juros.

Falta de educação financeira somada ao comportamento irresponsável do consumidor perpetua o abismo entre a prosperidade dos ricos e o eterno perrengue dos pobres. E a mudança de comportamento é a tarefa mais difícil para o brasileiro que assiste o descalabro dos governantes com o dinheiro público. A falsa noção de que não há limites para o gasto contamina o comportamento do povo. Quando acaba o dinheiro apela-se para a dívida. E quando a dívida explode faz-se o calote.

O governo arrecada cerca de 40% da renda da população em impostos. E, não contente com o butim, toma empréstimos no mercado gerando uma dívida que hoje alcança três trilhões e meio de reais. E gasta só com funcionalismo público 40% do que arrecada, deixando de prestar os serviços básicos de saúde, segurança e educação que Genival tem direito, mas não recebe.

O cidadão deseducado não percebe que o gasto sem freios do governo vai cair sobre suas costas cedo ou tarde. E não se dá conta que a sua própria gastança irresponsável retira de sua família a chance de prosperar.

Genival agora tem duas geladeiras em casa e uma dívida de R$ 192,00 mensais. Um amigo o aconselhou a fazer um curso sobre finanças e consumo responsável. Ele topou, porém, o que aprendeu de matemática no Ensino Fundamental não é suficiente para ele entender os conceitos básicos de dinheiro e tempo.

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