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Publicado: Sábado, 6 de abril de 2013

A difícil relação entre família e escola

Crédito: domínio público A difícil relação entre família e escola
Não existem pais bons ou maus; existem apenas modos diferentes de ser pai e mãe!

A conversa aconteceu na fila do pão, rápida e descompromissada. Mas, ao sair da padaria, as palavras ditas, aparentemente ingênuas, começaram a “martelar” meus pensamentos: por que pais de crianças pequenas desistem do diálogo com a escola dos filhos?   Que sentimento é esse que provoca, cada vez mais, nas famílias o desejo de distanciamento das escolas?  

Eu sei que, ao analisar o tema, corro o risco de ser mal interpretada, sobretudo pelos colegas pedagogos; mas, ainda assim, prefiro arriscar.  Consciente de que não sou dona da verdade, escrevo essas palavras com muito respeito e cuidado, pois o que direi a seguir é apenas um de vários outros pontos de vistas que certamente, a partir deste, virão.  

Não é à toa que as conversas são entrelinhas. Como disse meu querido professor e amigo César Nunes, “as entrelinhas fazem o pensamento sugerir que há muito mais a ser descoberto nas lacunas, nos interditos do que o que está escrito.”

Que assim seja com este texto, porque é assim também, em minha opinião, que as escolas deveriam se relacionar com as famílias de seus alunos.  “A paternidade/maternidade não é um modo de ser, mas um tornar-se”, como defende a proposta italiana de Educação Infantil de Reggio Emilia; e nesse processo, as possibilidades e as entrelinhas são muitas.

Por isso também, acredito e defendo que não existem pais bons ou maus; existem apenas modos diferentes de ser pai e mãe.  Embora nem sempre estejamos aptos a compreendê-los, o que menos os pais precisam, por parte das escolas, é ser submetidos a julgamentos e, em especial, a prejulgamentos. Essa atitude, quase um vício entre os profissionais da educação, de dizer o que os pais devem ou não fazer na educação dos filhos, na verdade tem um terrível argumento: facilitar o processo de escolarização, tornando o trabalho dentro da escola mais fácil e tranquilo.  

Nesse sentido, fica fácil compreender por que  o discurso a favor da participação das famílias na vida escolar não se concretiza: intencionalmente, as ações no chão da escola seguem caminhos opostos.  Vamos aos exemplos?  Ou melhor, às reflexões: Quantas vezes a escola chamou você, na função de pai ou mãe, para conhecer um pouco mais sobre o jeito de ser e de aprender do seu filho? Oferecendo-lhe espaço, voz e vez para saber sobre as suas percepções em relação ao desenvolvimento emocional e intelectual do seu filho? E para dizer que seu filho não aprende Matemática? Que não estuda; que faz bagunça na sala de aula; que não faz a tarefa de casa; e que isso tudo precisa ser resolvido por você?  

Bem, penso que as respostas a essas perguntas são suficientes para reforçar o sentimento de que o motivo pelo afastamento das famílias, evitando participação e diálogo com a escola, encontra-se na arrogância paradigmática das ações pedagógicas. E que, de forma bem simples,  atesta o que diz o ditado popular: “Os pés dizem sempre mais do que a boca” ‒ não?   

Ou seja, para recuperar a presença e a participação dos pais nas escolas é preciso quebrar paradigmas, revelando no gesto pedagógico respeito e acolhimento às famílias em suas diversidades, inclusive abandonando estereótipos superficiais que podem interferir no relacionamento pedagógico com o aluno. Em outras palavras, quero dizer que quando um professor julga os pais do seu aluno, geralmente toma como “medida” a sua  imagem do que é ser pai/ mãe ideal. Quando essa imagem não é correspondida, a tendência é projetar no aluno o sentimento de frustração e rejeição, atrapalhando significativamente a relação pedagógica. 

Complicado?  Sim, muito complicado. Principalmente se faltarem nos educadores o interesse e a disposição para enxergar os pais dos alunos como pessoas. Pessoas como eu e como você, que não estão prontas e buscam nas suas atitudes ‒ ainda que não ajudem os processos escolares ‒ sensibilidade e preocupação educativa em relação ao filho. 

Sem essa visão e sentimento, dificilmente aquela mãe que conversou comigo na fila do pão, dizendo-se distante da vida escolar, encontrará parceria, união e diálogo com a escola do seu filho.   

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