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Publicado: Sábado, 24 de outubro de 2015

A culpa também não é das estrelas

Crédito: Montagem A culpa também não é das estrelas
A culpa também não é das estrelas

A culpa não é minha...

Quantas e quantas vezes nós usamos essa frase?

Quem, além de mim, a usou na última semana, no último mês, no último ano, ou, em alguma situação que nos tenha chateado?

É quase que natural dizê-la, e  é a saída mais fácil também. Afinal, ao dizermos que não somos culpados, estamos inevitavelmente responsabilizando alguém ou algo, pelas as nossas frustrações. E sim, nós fazemos isso constantemente. Culpar o cachorro porque ele fez suas necessidades dentro de casa é mais fácil do que assumir que esquecemos de levá-lo à rua. Responsabilizarmos o outro por não ter compreendido o que dissemos e por isso não ter feito o que pedimos, é tão espontâneo que não nos damos conta que talvez, não tenhamos sido claros os suficiente. Assim como, quando algo que não queremos, acontece, é normal culparmos o tempo, o trânsito, o carteiro, o gerente do banco, o nosso chefe, o cosmos, o vizinho e até o encanamento. Mas, nunca nos voltamos a nós mesmos e nos perguntamos se tivemos alguma participação, mesmo que indiretamente, no incidente.

É... a culpa também não é das estrelas...

Semana passada, eu tive o prazer de participar de um treinamento externo de dois dias, proporcionado pela a empresa em que trabalho. Foi aquele tipo de treinamento - motivacional - que não te faz promessa alguma, mas que ao sair, você sai completamente mudado. E comigo foi assim. Foram dois dias exaustivos, cheio de dinâmicas com metáforas e ensinamentos, cheio de lições de vidas, e o melhor de tudo foi que abordou dois temas que gosto e uso muito em meus textos, principalmente os sobre dependência química: viver o aqui e agora e assumirmos as nossas responsabilidades.

Em um determinado momento do treinamento, justamente no que abordava o tema "assumir a responsabilidade", foi dado um exemplo sobre a "gravidade" que gostei bastante: Ela é a maior força exercida sobre nós, certo? Entretanto, quando acordamos, ao nos levantar e colocar os pés para fora da cama, nós não a culpamos pela a força que exerce sobre nós, nós não dizemos: - Você de novo, gravidade?

Trazendo esse exemplo para o contexto, temos que saber separar o que é de fato de nossa responsabilidade direta, o que é de responsabilidade de outra pessoa ou algo, mas que temos algum poder de ação sobre, e por fim, aquilo que não podemos fazer nada a respeito. Como a gravidade. Isso pode ser facilmente percebido em nossa situação econômica atual, onde estamos constantemente focados em culpar a corrupção, o governo, o petrolão, ao invés de focarmos em como podemos dar a volta por cima.

Apenas como exemplo, lá, no treinamento, no segundo dia, nos foi pedido que mentalmente trouxéssemos algo que nos tenha deixados frustrados e chateados. Eu demorei um pouco para conseguir pensar em algo, no primeiro momento, cheguei a achar que não tinha nenhuma lembrança assim, traumática, mas aí, como uma rajada de vento que precede a tempestade, a lembrança de uma noite de natal em que ainda namorava meu ex-namorado DQ surgiu. A família dele havia viajado e ele iria passar a noite de natal com a minha família e o meu desespero começou quando, por volta das oito da noite, comecei a ligar para ele e ele não atendia.

Fazia uma semana que eu havia descoberto que ele estava usando drogas.

Foi uma das piores noite da minha vida. Ele ficou sumido por horas até entrar em contato, já quase meia noite. Ele havia fumado crack.

Quando essa lembrança me veio à mente, antes mesmo que o palestrante dissesse que agora deveríamos fazer o mesmo exercício, só que ao invés de nos colocarmos na posição de vítima, assumirmos uma postura de responsáveis, eu me dei conta de que eu também fui cumpada por aquilo que aconteceu. Eu disse acima que fazia uma semana que havia descoberto que ele estava com problemas com drogas e nessa uma semana, eu nada fiz. Não contei à família dele e nem tampouco à minha. Eu não encarei o problema de frente, ou, não dei a ele a devida importância, Eu tive uma das piores noites da minha vida e talvez, só talvez, eu poderia ter evitado.

Entendem o que quero dizer? 

Às vezes, a situação em que estamos enfrentando é tão complicada, tão intensa, que não agimos da forma mais coerente, ou que simplesmente, deixamos de agir e só esse fato, já é o suficiente para nos deixar frustrados com as futuras consequências, mas, não paramos para refletir se em algum momento, poderíamos ter feito algo diferente.

Dizem que não devemos remoer o passado, e antes que alguém pense que é isso o que estou sugerindo, logo digo que estão errados, refletir sobre o que aconteceu é diferente de reviver amargamente o acontecido. Quando refletimos, focamos em tudo de positivo e negativo, quando revivemos amargamente, focamos somente naquilo que nos causou dor, frustração ou sofrimento e fazendo isso, não conseguimos tirar nenhuma lição e tampouco evitar novas experiências ruins.

Dentre as várias metas que me coloquei ( em um exercício proposto no treinamento) eu saí de lá decidida a partir de agora não buscar mais culpados e sim, encontrar soluções e para fazer isso, eu tenho sempre que em primeiro lugar, assumir a minha parcela de responsabilidade. 

Eu desejo a vocês que façam o mesmo, acreditem, essa pequena mudança de postura é capaz de causar um efeito borboleta positivo em nossas vidas.

Até a próxima, onde falarei sobre o tema "Viver o aqui e agora".

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