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Publicado: Quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A criança o livro e o adulto

Hoje pela manhã ouvia no rádio uma reportagem da CBN sobre a falta de professores na rede pública. Faltam professores, alunos seguem sem aulas, e escolas impedem que os alunos simplesmente voltem pra casa mais cedo para evitar queixas dos pais. O Governo justificou dizendo que as grades de aulas ainda não foram concluídas, mas ainda que isto fosse uma desculpa aceitável, alunos entrevistados disseram que isto é frequente, e um deles chegou a dizer que passou do primeiro ano sem ter aprendido absolutamente nada.

Toda semana, na tradição judaica, lê-se uma porção da Torá, o Velho Testamento em seu texto hebraico. Nesta semana o pedaço a ser lido conta a história do encontro de Moisés com o Divino, e o recebimento das Tábuas da Lei. O primeiro dos nossos livros.

No começo, o texto refere-se ao povo como “filhos de Israel”, carregando a conotação de crianças de Israel. O Rabino Haim Shalom, da Hebrew Union College, aponta que ao final do texto, o povo é referido apenas como Israel. Israel é usado om frequência para designar o povo de Israel.
Por trás deste singelo detalhe me golpeia uma sabedoria no mínimo interessante. O livro torna o povo maduro. As crianças tornam-se um povo ao receber o primeiro livro. São crianças antes, adultos depois. É com a construção do conhecimento que constrói-se a sabedoria, e um povo pode assim deixar de ser um grupo de crianças sob cuidado de alguém, para passar assim a construir sua própria História.

Meu querido avô, Jacob, que há muito nos deixou, disse em um sábado de 1954, no dia em que meu tio atingia sua maturidade segundo a religião: "hoje você se torna uma pessoa de pleno pensamento e responsabilidade." Pois isto é assumir a maturidade: ser responsável. Ele ainda diz "Sei que você fará as escolhas certas, por causa de sua educação."

O Brasil vem escondendo realidades atrás desta falácia de país do momento, bola da vez e tantas outras bobagens. O que este país tem agora é um momento fantástico, pois ele representa uma oportunidade, e não uma comemoração de missão cumprida. É uma conquista sim, que estejamos em uma economia pulsante em uma democracia razoavelmente sólida. Mas uma democracia que não educa direito sua população está fadada a ser sempre uma triste perversão. Pois a democracia coloca na mão de todos as escolhas, e fazer escolhas demanda maturidade. Fazemos escolhas pelas crianças, pois julgamos que elas não estejam prontas a fazê-lo, e muitas vezes, isto é verdade.

Índices econômicos não bastam. Abraço de peito aberto e coração a democracia, e acho que educar seriamente a população é uma fronteira fundamental para que este país possa amadurecer e deixar de ser criança.

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