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Publicado: Terça-feira, 22 de outubro de 2013

A Convenção de Itu vista por seus Contemporâneos

   A Convenção de Itu de 1873, vista por seus contemporâneos

 

Artigo publicado na Revista da ACADIL/Academia Ituana de Letras. v.15, n.15, 2013. pp. 48-61. Ottoni editora.

 

Dra.  Anicleide Zequini

 

I. O desenrolar dos acontecimentos

 

Em 17 de abril de 1873, um dia antes da Convenção de Itu, reunião dos republicanos da província de São Paulo, a cidade se encontrava em festa, em meio às comemorações em torno da inauguração da estrada de ferro Ituana.

Um grande empreendimento para a época, símbolo da modernidade e do progresso econômico local, proporcionou e agilizou a integração e comercialização de produtos agrícolas aqui produzidos, entre eles o café e  a cana de açúcar,  com a Cidade de São Paulo e ao Porto de Santos ligados por intermédio da cidade de Jundiaí, entroncamento da linha ferroviária da São Paulo Railway, inaugurada em 1867.

A Companhia Ituana de Estrada de Ferro foi organizada em 1870, a partir de vendas de ações adquiridas, principalmente, por ituanos, sendo seu idealizador um dos chefes do Partido Conservador da Província e seu primeiro presidente José Elias Pacheco Jordão[1]. Após três anos de trabalhos, a ferrovia já estava concluída, ligando as cidades de Jundiaí a Itu, passando por Indaiatuba, Itupeva, Quilombo e Salto. Houve também, expansão de ramais para Capivari e Piracicaba.  .

Neste ano, de 1870, o movimento republicano havia se intensificado e, registro disto foi a publicação, em dezembro de 1870 através do jornal A República veículo de propaganda do Partido Republicano do Rio de Janeiro, um documento intitulado Manifesto de 1870,considerado o nascimento do Partido Republicano no Brasil.    

Em Itu, o Partido inicia sua organização, em 9 de setembro de 1871, com a criação de um Clube republicano, sendo sua primeira diretoria formada por João Tibiriçá Piratininga, presidente; Antonio Francisco de Paula Souza,secretario; Ignácio Xavier de Campos Mesquita, 2º. Secretário; João Tobias de Aguiar e Castro e Francisco Emigdio da Fonseca. 

         Entre os membros fundadores estava José Vasconcellos de Almeida Prado que, presente nesta reunião, indicou a criação de uma escola noturna, que seria mantida por meio de contribuições mensais dos republicanos da localidade.  Em 31 de dezembro, daquele mesmo ano, registrou-se em Ata do Clube de Itu a matrícula de 25 alunos, tendo como professor Braz Carneiro Leão, republicano e participante da Convenção de 1873.

            Neste mesmo ano, os republicanos de Itu propuseram a fundação de um jornal na cidade, para funcionar como “órgão do Clube Republicano”, e para tanto, nomeou-se uma Comissão formada por João Tobias de Aguiar e Castro e Antonio Francisco de Paula Souza, ambos também republicanos e participantes da Convenção de 1873.

A data da organização do Clube ituano, em 1871, coincide com a adesão deste ao do Rio de Janeiro. O documento de adesão foi encaminhado para o Clube Republicano do Rio de Janeiro, com 140 assinaturas, entre eles, de lavradores, capitalistas, negociantes, dentistas, farmacêuticos, advogados e artistas.

Assim escreveram:

“Ao Club Republicano do Rio de Janeiro o Club Republicano de Itu.

Cincoenta anos de triste experiência monárquica convencerão aos abaixos assinados, lavradores, capitalistas, comerciantes, que só o governo do povo e para o povo é que podem vir a felicidade, progresso e engrandecimento de uma pátria. Em conseqüência protestam eles contra a atual anarquia monárquica e seus corrompidos e desmoralizadores desmandos e regozijam-se em poder participar do Club Republicano do Rio de Janeiro, que envidarão todos os seus esforços para que a “Republica Federativa” seja em breve uma realidade entre nós”.

Entre as determinações, observa-se que o clube ituano passou a funcionar como “núcleo e centro” político do ainda não oficializado Partido Republicano Paulista, tendo como presidente João Tibiriçá Piratininga o mesmo que, em 1873, presidiu os trabalhos da Convenção de Itu.

Itu, em 1871, já era uma cidade bastante desenvolvida, economicamente e se destacava com as culturas de café, cana de açúcar, algodão. Chá e outros gêneros. Possuía uma Fábrica de fiação e tecelagem, a São Luis, que tinha como seu idealizador e maior acionista, Luiz Antonio de Anhaia, considerada a primeira fábrica da província de São Paulo a empregar o vapor como força motriz.

A localidade era bem urbanizada, com ruas calçadas e iluminadas com lampiões a querosene. Havia vários edifícios importantes, como as inúmeras Igrejas, os Colégios para meninos, o São Luis, e o Colégio para meninas, O  Patrocínio, a casa de Câmara e Cadeia, e uma escola noturna para meninos fundada pelos republicanos, e por indicação de José Vasconcellos de Almeida Prado.

Um ano após a fundação do Clube, em 1872, nota-se que o professor da  escola era José Ignácio do Amaral Campos e que, a proposta da fundação de um jornal local fora adiada. Nas justificativas para tal decisão estavam os altos custos da compra de maquinários e a contratação de funcionários habilitados.

A criação de um Jornal voltou novamente a ser debatida na própria Convenção de Itu em 18 de abril de 1873. Conforme a Ata desta reunião, registrou-se que o assunto foi debatido por Ubaldino do Amaral, Barata, Jorge de Miranda, Manoel de Moraes, Augusto da Fonseca, Antonio Cintra, Joaquim de Paula Souza, A. de Campos e Joaquim Roberto de Azevedo Marques.

Contudo, naquela reunião, o presidente da sessão, João Tibiriçá Piratininga alegou que, “o assunto não era dos que deviam ser votados, por não fazerem parte das bases da organização”, referindo ao Partido Republicano, mas que não deveriam “esquecer-se que é de suma importância e grande alcance não se descuidarem os republicanos da imprensa, elemento essencial de propaganda das ideas e princípios, que são professados pelos cidadãos presentes”.[2]

Mas, a idéia ainda permanece. Registros das atividades do Clube Republicano de Itu indicam que este contribuiu para a manutenção do jornal republicano A República,  do Rio de Janeiro e, com a fundação do Jornal A Província de São Paulo, atual O Estado de São Paulo, organizado fins de 1874.  Desde último são considerados fundadores os republicanos ituanos, João Tobias de Aguiar e Castro. João Tibiriçá Piratininga e José Vasconcellos de Almeida Prado.

Contudo, a flexibilidade política deste Jornal e a adesão de membros do Partido Liberal foi motivo de algumas críticas, especialmente, de republicanos de Itu. Entre eles, Francisco Emigdio da Fonseca Pacheco, o “Totô Fonseca”, um dos chefes políticos locais.

Em correspondência enviada a Américo Brasiliense, em 17 de outubro de 1874, foi enfático em sua decisão, escrevendo:

“a folha que queremos crear não pode contar com assinantes d’aqueles partidos, e será sustentado somente pelos republicanos; ora sendo assim porque não será ele órgão do partido republicano, e não advogará exclusivamente seus interesses? Atravessamos uma época da barburia política, e nestas circunstancias não me animo a concorrer para a criação da – Província – que não tem cor política” . ( Aranha, 1936, p. 49-50).[3]

[4]

O desenrolar dos acontecimentos......

Em 1872, o representante do Clube ituano, José de Vasconcellos Almeida Prado foi convidado por Américo Brasiliense de Almeida Mello a participar em sua residência em São Paulo, de uma reunião de republicanos. Estiveram presentes nesta reunião representantes da capital e do interior.    Entre as discussões, foi indicado que precisavam acertar a data e também a cidade que deveria sediar o então “Congresso Republicano”, tendo como objetivo organizar o Partido Republicano na Província de São Paulo[5].

Entre as deliberações estavam que:

“fosse, como de fato foi, nomeada uma comissão dentre os cidadãos presente para que se dirigisse aos amigos e núcleos republicanos da província, convidando-os a que organizassem o partido, afim de que se ache pronto, sendo necessário, a entrar na luta; e mais que promovesse por todos os meios ao seu alcance larga e eficaz proteção a empresa republicana, principalmente aos jornais que sustentam aquela Idea na corte e nesta província”[6].

Diante disso, foram colocados em votação e consultados todos os clubes já organizados do interior. Eram duas as cidades mais indicadas para sediar o Congresso republicano: Campinas e Itu. 

A cidade de Campinas se manifesta e publica a sua decisão no Jornal Gazeta de Campinas em 7 de novembro de 1872. Por meio deste, informou publicamente que “  o lugar mais conveniente para a reunião desse Congresso não é esta cidade e sim a de Itu”. Assinou o documento, o Américo Brasiliense, Jorge de Miranda, Francisco Quirino dos Santos. Campos Salles e Elias do Amaral Souza.

Desta forma, em finais de 1872,  Itu já havia sido escolhida para sediar o encontro dos Republicanos. O dia foi determinado em 18 de abril de 1873, um dia após a inauguração da estrada de ferro Ituana, que embora tivesse como um de seus maiores representantes o conservador José Elias Pacheco Jordão.

Assim, publica o Jornal Correio Paulistano, em 8 de abril de 1873,

          “ Companhia Ituana. Inauguração

De ordem da directoria faço publico, que foi designado o dia 17 de Abril entrante, para a inauguração do trafego em toda a linha. Outrossim, são convidados os srs. Accionistas para um copo d’agua, que a directoria deliberou offerecer à companhia naquelle dia. Itu, 31 de Março de 1873. O Secretário da companhia. Francisco A. Barbosa”.

Conforme informações registradas por este jornal, cerca de cerca de 6 mil pessoas presenciaram a inauguração da estrada de ferro e estação da Companhia Ituana. Um número  muito expressivo, pois a população total da cidade era estimada por volta de 15.000 mil pessoas entre livres e escravos.

Vieram visitantes de toda a região para a festa, sendo que o largo da Estação Ferroviária transformou-se em um amplo estacionamento para as carruagens e troles.

Além disso, observou-se a presença, conforme o anúncio publicado no jornal O Ytuano de 25 de março de 1873, de uma grande fileira de dois andares de palanques com camarotes, especialmente construídos e alugados para o evento, por José Januário e Irmão. Assim noticiaram:

“Inauguração

José Januário e Irmão, encarregão-se de fazer palanques divididos em camarotes, os quaes achão-se desde já à disposição das famílias que quizerem alugar. Os camarotes são todos numerados, e serão collocados em frente a estação”.

Esses mesmos camarotes ficaram registrados na litografia de Jules Martin, francês que viveu em São Paulo em finais do século XIX. Esta imagem, segundo Affonso de Taunay, serviu de modelo para a confecção de um dos quadros de azulejos do Museu Republicano, intitulado Inauguração Solene da Estação de Itu. 17 de abril de 1873.

  Para Affonso de Taunay, esta imagem talvez seja o mais antigo documento impresso da iconografia ituana, o qual representa “a estação recém-inaugurada de Itu e sua vizinhança no momento da chegada do trem inaugural que trazia o presidente da Província de São Paulo Dr. João Teodoro Xavier”[7].

Segundo descrições do Jornal Correio Paulistano de 24 de abril de 1873,  os  camarotes estavam “adornados com a maior elegância e esmero, nos quais avultavam cerca de mil senhoras, oferecendo vistoso e atrativo espetáculo” Arcos, bandeiras, flâmulas, ramos e flores, compunham a festa. 

A chegada do trem inaugural ocorreu ao som das musicas e foguetes e a multidão saudando, segundo palavras do próprio jornal, “o monstro mecânico que naquele momento simbolizava as patrióticas aspirações do município ituano”

Entre os discursos proferidos naquele dia estava o do Dr. Cândido Barata, que no dia seguinte, em 18 de abril, estaria presente na Convenção de Itu, como representante do Clube republicano da Capital de São Paulo.

Assim, nota-se que a festa da ferrovia acabou sendo também a dos republicanos. Após a chegada do trem inaugural, seguiu um lanche servido ao público presente. Assim descreveu o mesmo Jornal Correio Paulistano:

“a mesa em forma de X, com 250 talheres, ostentava as mais delicadas iguarias, frutas, doces e bebidas”. Completava esta, “no centro, figurava, como um primor de confeitaria, uma locomotiva feita de coco, coberta de flores de coco, com um vagão semelhante cheio de frutas especiais de Itu: abacaxi, cajus, maças, etc, trabalho primoroso feito em Itu”.

Ainda descrevendo a festa, continua: “as ruas da cidade estavam ordenadas de palmeiras, flâmulas, festões e bandeiras e as casas igualmente adornadas”.....A noite, a cidade iluminada.

No dia 18, a da Convenção de Itu, mas ainda descrevendo as festividades em torno da ferrovia, houve ao meio dia na igreja Matriz um Te Deum com a apresentação de uma “musica especialmente escrita para aquele ensejo pelo distinto e inspirado ituano Elias Álvares Lobo”, que à tardinha marcou sua presença na Convenção de Itu., onde estivem presentes mais de 200 pessoas.

Da família Lobo, também se destacou no movimento republicano ituano  José Álvares da Conceição Lobo, irmão de Elias Lobo. Este em fins de 1889, já após a proclamação da republica ainda se mostrava ativo em suas atividades políticas locais. Evidencia disso é a correspondência que recebeu de Antonio Francisco de Paula Souza,  em 19 de novembro de 1889, com a indicação: “Urgente e Reservada”, solicitando que era necessária a adesão dos ituanos ao então Governo Provisório do Estado de São Paulo, formado por Prudente de Moraes, Rangel Pestana e Joaquim de Sousa Mursa.

 Neste documento,  Paula Souza, solicita a presença especialmente, dos empregados da Companhia Ituana de estrada de ferro, pois “ que sempre foram na sua maioria senão na sua totalidade Republicano”. Além deste grupo, também solicita a presença da Banda dos Artistas, banda de musica,  formada por “empregados da Cia”  sempre presentes em eventos republicanos.

Além disso, solicita que levasse uma bandeira “azul e branca”, a qual o próprio Paula Souza havia feito e que se encontrava guardado no Hotel do Braz, pertencente ao também republicano e, Convencional, Braz Carneiro Leão.

 Segundo relato daquele dia da Convenção, informou José Vasconcellos de Almeida Prado a Affonso de Taunay em 1923, que o  sobrado da Rua do Carmo, onde ocorreu a Convenção de Itu,  foi  “naturalmente indicado para a solenidade, pelo seu tamanho e por sermos republicanos” , referindo-se a seu irmão Carlos Vasconcellos de Almeida Prado, que na época da Convenção, era o único proprietário daquele edifício. [8]

Em suas memórias assim a descreveu: José Vasconcellos:  “ Desde muito antes da abertura da sessão, o sobrado estava completamente cheio de republicanos e de curiosos. Tivemos receio que o soalho afundasse. Não se podia entrar nem subir, tal era a aglomeração de gente. Em cima, á porta que dava ingresso a sala de reunião, o livro de presença para os que fossem republicanos ou quisessem batizar-se como tais, naquela data. Foi uma bela festa cívica: muita ordem, muito entusiasmo e verdadeira alegria[9]”.

Ao que se nota, é que o sobrado mesmo após a Convenção de 1873 sediou outros encontros republicanos, como aquele organizado em 1º. de dezembro de 1888, para os republicanos eleitores nacionais e estrangeiros . A reunião ficou seria nos “ salões do sobrado do Sr. Carlos de Almeida, a rua do Carmo, residência do cidadão Moraes [10]” .

Segundo o Jornal República do Rio de Janeiro, em matéria publicada em 28 de abril de 1873, afirmou que a Convenção de Itu poderia ter sido ainda maior, pois não estavam presentes núcleos republicanos importantes do interior como Itapetininga, Rio Claro e Pirassununga.  

Os trabalhos políticos realizados na Casa de Carlos Vasconcellos de Almeida Prado foram presididos por João Tibiriçá Piratininga, tendo como secretário Dr. Américo Brasiliense de Almeida Mello e tiveram início às cinco horas da tarde, finalizando as 8 e meia da noite.

Desta reunião registraram-se, em um livro específico, o de Ata da Convenção, documento que foi doado ao Museu Republicano por Carlos Reis em 1923, as deliberações para a formação do então Partido Republicano Paulista e sua organização[11]. Ali estão registrados os nomes e número de participantes de cada uma das localidades presentes. De Itu  (32) , Jundiaí (9), Campinas (14), São Paulo (09), Amparo (04), Bragança (04), Mogi-Mirim (02), Constituição - atual Piracicaba (05), Botucatu (04), Tietê (01), Porto Feliz (14), Capivari, (14), Sorocaba  (05), Indaiatuba (09), Bethem de Jundiai - atualItatiba (01)  , Vila de Monte Mor (01), Jau 01) e Rio de Janeiro (02).

Dessa reunião também foi doado ao Museu Republicano, o livro com 133 assinaturas que, segundo José Vasconcellos, para aqueles que “fossem republicanos ou quisessem batizar-se como tais, naquela data”. Este documento foi doado ao Museu por Jorge Tibiriçá Piratininga, em 1923 [12].

Assim neste dia 18 de abril de 1873, ficaram deliberadas a organização do Partido Republicano Paulista, com as seguintes decisões, as bases, registradas na Ata mencionada:

 

“ 1ª Será constituída na Capital da Província uma Assembléia de representantes de todos os municípios.

2ª Funcionará, a primeira vez, em dia marcado pelos presentes cidadãos, e posteriormente como e quando for determinado pelos meios adotados em sua Constituição.

3ª Cada município elegerá um representante.

4ª O sistema eleitoral será o do sufrágio universal, i. é  a idade de 21 anos completos e a não condenação criminal darão o direito de voto a todo cidadão

5ª A Assembléia de representantes no fim de cada Sessão nomeará uma Comissão para no intervalo das reuniões dirigir os negócios do Partido, entender-se com os Clubs municipais, e tomar as providencias exigidas pelas circunstancias, que se derem, ficando porem seus atos sujeitos á aprovação da Assembléia”.

Estas bases foram distribuídas para todos os núcleos republicanos da Província de São Paulo e publicadas em jornais de grande circulação, como o Correio Paulistano,. Este jornal,  em 22 de maio de 1873, traz em sua coluna intitulada Crônica Política uma Circular aos Republicanos, afirmando que como “foi convencionado na reunião em Itu”, convidava os municípios da Província a “fazerem-se representar”  na Assembléia marcada para o dia 1º. de julho  daquele mesmo ano na cidade de São Paulo.

Coube a organização desta reunião aos republicanos ituanos João Tibiriçá Piratininga e João Tobias de Aguiar Castro.

Nota-se que as comemorações da inauguração da estrada de ferro ituana e da Convenção de Itu, movimentaram a cidade até o dia 20 de abril de 1873, com a realização de inúmeras atividades políticas e sociais como bailes, queima de fogos e discursos.

Para tanto, descreveu os acontecimentos de 18 de abril, o Jornal O Ytuano em 27 de abril de 1873:

Reunião Republicana: A tarde na casa do cidadão Carlos de Vasconcellos de Almeida Prado, reuniram-se mais de 200 republicanos, e ai discutiram diversos pontos em ordem à completa regularidade do partido.

A reunião foi presidida pelo cidadão João Tibiriçá visto ter declinado da presidência o Dr. Américo Brasiliense, que havia sido aclamado, por entender que o Sr. Tibiriçá competia ela, como presidente da diretoria do clube republicano desta cidade.

Bailes: A noite, teve lugar o baile da inauguração com um numeroso concursos de pessoas, inclusive S. Ex., o Sr. Presidente da Província.

Em geral os toaletes foram dos mais apurados elegante gosto, notando-se uma certa igualdade entre eles. Foi profusamente servido, reinando a melhor ordem no serviço, iluminando-se de novo, e com  mais gosto, toda a cidade.

Fogos: a 19, queimou o fogo de artifício, feito pelo Sr. Francisco da Costa Oliveira.

Houve diversas peças, que mostraram a proficiência do Sr. Oliveira em seu trabalho, sendo de lamentar-se, que a chuva obrigasse a queimá-lo desordenadamente, ressentindo-se grande parte das poças da humanidade.

Nossos parabéns a tão distinto artista.

Colégio São Luiz: no dia 19 ao meio dia teve lugar neste colégio, com assistência de muitas famílias, e outros convidados, um divertimento promovido pelo Rv. Reitor do mesmo, em sinal de regozijo pela inauguração do trafego da linha férrea ituana.

A maior sala do edifício achava-se decorada com muito gosto e pompa, e no fundo erguiam-se um tablado, nele apareceram os padres e professores e seus alunos, para executarem o belo e interessante programa, consistente em musica instrumental e vocal e versos em português, Frances, inglês e italiano de varias...... [ilegível].

No canto o Rev. P. M. Sabatini, com a rara voz de baixo foi admirado quanto merece.

Agradou bastante um dialogo em verso, como indagação e analise de uma locomotiva que ali se via desenhada na parede do fundo.

A interpelação e respostas servirão para descrever todo o maquinismo e mistérios de tais máquinas.

Foi uma festa que bastante deleitou.

O edifício foi franqueado, para que os convidados o visitassem em todos os seus compartimentos.

Muita ordem e anseio foi o que se viu.

O Sr. Dr. Queiroz Telles: no dia 20 a tarde, a banda de musica regida pelo Sr. Srs. Lobo e Tristão Mariano, dirigiu-se a casa do Sr. Queiroz Telles [da Diretoria da Companhia Ituana] afim de cumprimentá-lo pela nomeação que o governo acaba de fazer de S.S. para presidente da Companhia Mogiana.

Retirando-se esta banda, a outra que aqui existe, apresentou-se também no mesmo intuito, acompanhada de muitas pessoas gradas.

Na sala, e após a banda executar uma excelente peça, o redator desta folha [Bacharel Antonio Augusto Bittencourt], como intérprete de todos que ali se achavam dirigiu ao Sr. Dr. Queiroz algumas palavras significativas do motivo especial daquele cumprimento. Fazendo menção dos atributos nobre, que debaixo de todas as relações elevam e distinguem o caráter do Sr. Dr. Queiroz, o orador acabou felicitando a Companhia Mogiana, pelo sucesso esplêndido não se oculta num futuro duvidoso tendo para dirigir-lhe a empresa piloto tão  consumado e prestigioso.

O Sr. Dr. Queiroz, assaz comovido, num bem elaborado discursos, agradeceu tantas manifestações de amizade e apreço, que sem distinção de classes lhe eram feitas; protestou que se esforçaria por manter a estima geral que até então tem merecido; terminou erguendo um estrepitoso  viva aos Ituanos, e a seus amigos.

Seguiram-se muitos outros brindes, entre os quais foram saudados pelo Dr. Barbosa, o engenheiro em Chefe da Companhia Mogiana, pelo Dr. Queiroz, o distinto engenheiro, Dr. Pena; pelo Dr. Estevão, representante dos Jundiainos, os ituanos; pelo Dr. Queiróz, o Dr. Barbosa, os ex-diretores da Companhia Ituana, Capitães Agostinho de Souza Neves e Antonio de Camargo Teixeira, o diretor Francisco Correa Pacheco; o redator desta folha; por este o Tem. Coronel Antonio Leme da Fonseca, a Exma  esposa do Sr. Dr. Queiroz; finalmente pelo Dr. Queiroz a corporação musical presente e a Companhia Ituana.

Jantar Republicano:  Foi oferecido aos republicanos, por alguns membros do partido, um lauto jantar servido na casa do Cap. Bento Dias de Almeida Prado [posteriormente, o barão de Itaim], no dia 20. Reinou grande entusiasmo”.

         E assim, registraram-se os acontecimentos de 1873, que passaram para a História do país e da cidade de Itu, como um marco para a fundação da Republica brasileira: 



[1] Diplomado pela Faculdade de Direito de S. Paulo 1841. Político foi Deputado provincial. Vereador e presidente da Câmara de Rio Claro, duas vezes vice-presidente da Província de São Paulo (1868 e 1869). Um dos chefes do Partido Conservador da província. Lavrador em Rio Claro e organizador da Companhia de Estradas de Ferro Ituana, faleceu em 1888. Cf.  Moura, Carlos Eugenio Marcondes. Vida Cotidiana em São Paulo no século XIX, p. 257.

[2] Ata da Primeira  Reunião do partido Republicano em Itu aos 18 de abril de 1873. Manuscrito. Acervo Museu Republicano “Convenção de Itu”. fl. 03

[3] Aranha, José Mariano de Camargo. A Fundação da Província de São Paulo. Revista do Arquivo Municipal, XXXI, Departamento de Cultura, São Paulo, 1936. pp. 42-43.

[5] TAUNAY,  Solenização do Cincoentenário da Convenção de Itu, realizada a 18 de abril de 1923 com a instalação do Museu Republicano “Convenção de Itu” pelo Governo do Estado de São Paulo a 18 de abril de 1923. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1923.  PP. 60-63.

[6] Idem p. 62.

[7] TAUNAY, Affonso, Guia do Museu Republicano “Convenção de Itu”. São Paulo: Departamento Estadual de Informações, 1946, p. 44

[8] TAUNAY, Affonso, 1923, p. 76

[9] TAUNAY, Affonso, 1923, p. 76

[10] Reunião Republicana, Jornal Imprensa ytuana, Itu,SP, p. 01, 1º-dez- 1889.

[11]  MARTINS,  Mariana Esteves. A formação do Museu Republicano “Convenção de Itu” (1921-1946).Dissertação (Mestrado em Historia) FFLCH-USP, 2012, p. 185.  Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-21082012-093930/pt-br.php

[12]  Idem , p. 185.

 

 

 

 

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