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Publicado: Quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A canjica da minha mãe

Quero prestar uma homenagem a minha mãe. Não raras vezes  meu coração se enche de saudade e eu agradeço a Deus pela minha vida, que sempre foi tão boa, pelos meus pais, que souberam me criar e me fazer feliz, apesar de todos os meus problemas de nascença. Agradecer também, meu companheiro Getúlio que sabe iluminar meu caminho, pelas bênçãos que são nossos filhos e pela graça de poder ser avó  da Maria Clara.

Costumo escrever com frequência sobre a minha infância.

Lembrança de infância é como um caixinha, onde se guardam as primeiras impressões recebidas do mundo. Volta e meia buscamos nesta especial caixinha  os primeiros cheiros e afetos  de uma gostosa época.

Certos sabores ficam guardados em um canto em que a lembrança se mistura com a emoção. Eu nunca vou me esquecer da canjica com canela de minha mãe.

Simplesmente, canjica com canela, cozida no leite, polvilhada com canela em pó. Não era doce de festa. Mas, de longe, pelo aroma da canela, já sabíamos que o nosso doce preferido estava no fogo. O leite fervia, derramava. Quanta vezes, depois do jantar, vinha a canjica passada do ponto, com um gostinho de açúcar queimado.  Tanto meu pai, como meus irmãos e eu gostávamos assim mesmo.

O pudim da minha avó também está entre minhas lembranças. Era uma receita espanhola. Pudim de leite com queijo ralado em banho- Maria. No Natal era o prato mais esperado, o que deixava minha avó muito orgulhosa em ver as crianças e até os adultos lamberem os dedos pelo pudim dos deuses.

Incrível como o sabor de uma receita, experimentada há tanto tempo, mexe com a gente.

Sempre sinto uma estranha emoção. Receitas simples, como por exemplo, ovos fritos, com a gema mole. Quem não gosta? Quando como ovos fritos, sempre me lembro da infância. Eu até acho que esses simples pratos comuns remetem a sensações do dia-a-dia, quando a família toda se sentava ao redor da mesa. O almoço e jantar eram o momento sagrado de estarmos juntos.

Tudo era muito bom! A macarronada da mama, o pão feito em casa da nona, o frango de caçarola, a sopa de garvanço (grão de bico), o prato feito do jeitinho que só a mãe sabe. Isso tudo é inesquecível.

Inesquecível, também, eram os passeios na casa da avó. A benção da avó, o aperto do abraço, o riso dos tios e primos, o vazio da falta da nona, do nono...

Com o passar dos anos, a vida muda. A gente se distancia. Ou as pessoas se vão para sempre...

Mas, nada como fazer uma bela panela de canjica, e trazer de volta  a emoção dos abraços, do colo da mãe, dos gestos de carinho...

Tristeza? Não! Saudade de tudo aquilo que eu nunca perdi, porque continua viva dentro de mim.

Saudade  que sempre me  visita, e a visita da saudade dói no peito de quem ama.


Saudade da minha infância...

Saudade da minha mãe Izabel...

        

Ditinha Schanoski em homenagem à sua mãe Izabel Lazzazzera Martin e a todas as mães do mundo.

Jornalista e acadêmica

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