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Publicado: Sexta-feira, 8 de outubro de 2010

10.10.10

   De mera infantilidade, no puro repente e improviso - que criancice! - terá sido lá pelos idos de 2005, 2006 talvez, que se inaugurou neste espaço o costume de intitular a crônica, pela repetição dos mesmos números que compõem as datas, de dia,mês e ano: 05.05.05; 06.06.06.

   Assim veio essa forma de distração até hoje : 10.10.10.

   Dia dez do décimo mês do ano de 2010.

   O fato é que outubro começou ontem e já vai pelo meio.

   Por que seria que os tempos finais do ano se precipitam? Já pensou nisso?

   Quando se acorda, dezembro já engolfou de vez setembro, outubro e novembro!

   Então, de futuro, quando julho vier, data do começo disfarçado da precipitação, preste a atenção máxima.

   Os dias, semanas e meses não se encurtam.

   E quem é o personagem que tem o atrevimento de mexer na aparente inflexibilidade da duração do tempo? É o próprio homem. Ah os homens! E as mulheres tambem...

   Criam para si toda sorte de ocupações, a tal ponto de recaírem numa ação desenfreada e irrefletida. Na correria não se priorizam os compromissos. Pelo contrário, eles se amontoam. Indiscriminadamente. Costumes sadios de antanho são sumariamente preteridos. A saleta de TV substitui impiedosamente a sala de visitas.

   Roubou-se - e aí o dano supremo - o tempo de infância pura e despreocupada das crianças.

   A propósito, dia desses, um experiente palestrante fazia galhofa dos anos cinquenta, sessenta e anteriores, em que os pequeninos montavam boizinhos com xuxus e palitos de sorvete. Seriam bobinhos então  os meninos que debaixo da figueira imensa no jardim do Carmo, serviam-se de vestes indígenas confeccionadas com as grandes folhas verdes  costuradas também com palitos, mas de fósforos.

   A pensar assim, a criança sem infância dos tempos modernos, cresceria hábil e aplicada a superar o semelhante desde cedo - a amizade mútua em segundo plano - com as idéias e vitórias obtidas nos games. Muito melhor, não é mesmo, ver o menor sozinho preso ao pc horas a fio, ao invés da bobeira de brincar de pega pega em meio à folia da garotada risonha e feliz de outras épocas...

   Daí não se pergunte porque tantos menores se desviam. É pura falta de acompanhamento. Eles aprendem logo a não ter ou não precisar da permanente presença de colegas ou de superiores, às vezes até dos pais. São voluntariosos. Adultos aos catorze, quinze anos.

   Acha-se bonito, por exemplo, que o irmãozinho ou a irmãzinha toquem no ventre sagrado e acrescido da futura mamãe e falem aos presentes para mostrarem-se graciosos ou espertos: mamãe vai ter nenê.

   Chame-se de tola e vencida esta crônica.

   Havia naturalidade e honestidade autênticas nas eras passadas de quando nem se desconfiava de que as mães estavam grávidas e de repente a casa se enchia de felicidade porque a família aumentara.

   Sequer era necessário o famigerado chá de bebês...

   Tudo muito natural, espontâneo e verdadeiro.

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